Emmanuel Macron foi, em 2017, o primeiro Presidente da V República francesa a ser eleito sem o apoio de um partido consolidado, tendo conseguido também eleger uma maioria na Assembleia Nacional que lhe permitiu levar a cabo o seu programa eleitoral.
É o claro favorito nestas eleições presidenciais, cuja segunda volta está marcada para 24 de abril.
Segue-se uma análise do seu mandato em cinco pontos:
Economia e Finanças
Desde 2017, que o poder de compra dos franceses aumentou 0,9%, um ganho anual de 300 euros, que ultrapassa a evolução durante a governação de François Hollande. O aumento não resulta da aplicação do programa de 2017 de Emmanuel Macron - que previa apenas o aumento em 50% do bónus de atividade - mas sim das medidas implementadas após a crise dos 'coletes amarelos'.
Este movimento social, que durou quase um ano, levou à adoção por parte do Governo de um bónus anual, que em 2021 representou cerca de 500 para quatro milhões de franceses. Os 'coletes amarelos' também levaram o Governo a baixar de 14% para 11% os impostos às famílias no segundo escalão de rendimentos.
No plano fiscal, Macron realizou uma parte importante das suas promessas de campanha, tendo acabado com o imposto sobre a riqueza instaurado por François Hollande e suprimido progressivamente o imposto sobre a habitação. Cortou ainda nos impostos sobre a produção e sobre as empresas, tendo o Estado recolhido menos 50 mil milhões de euros nos últimos cinco anos.
Esta perda faz diferença numa altura em que a despesa pública aumentou face a 2017, situando-se agora em 55,6% do Produto Interno Bruto (PIB), mais 0,5% do que no início do mandato. A dívida pública também aumentou, passando de 100% a 113% do PIB, ou seja, mais 700 mil milhões de euros.
O aumento do poder de compra dos franceses durante o mandato de Macron está também ligado à criação de emprego. O Instituto Nacional de Estatística e dos Estudos Económicos francês estima que foram criados 957.000 novos postos de trabalho desde 2017. Quando foi eleito, Emmanuel Macron disse que queria atingir uma taxa de desemprego de 7% e está perto com 7,4%, a taxa mais baixa no país nos últimos 15 anos.
Macron realizou ainda reformas como a do código do trabalho, alterando os mecanismos de atribuição do subsídio de desemprego, introduzindo uma limitação das indemnizações para quem perde o trabalho injustamente e mais formação no local de trabalho.
Covid-19
A grande reforma de Macron que ficou por concluir foi a das pensões. Visando unificar diferentes sistemas de pensões num único, foi posta de lado devido à crise da covid-19. O Presidente francês prometeu que se ganhar um segundo mandato vai realizá-la, de forma diferente, mas insistindo no aumento da idade da reforma dos 62 para os 65 anos.
Face à epidemia da covid-19, o Governo francês impôs desde logo medidas restritivas importantes, com um confinamento total de quase dois meses. Houve indicações contraditórias sobre a utilização da máscara, sabendo-se mais tarde que a França não possuía máscaras suficientes, o que suscitou a desconfiança da população. Na vacinação, Emmanuel Macron não chegou a impor a sua obrigação, mas tentou restringir ao máximo a vida de quem não se vacinasse e 77,8% da população em França tem a vacinação completa.
A nível económico, foi mais assertivo, declarando desde o início apoiar os empresários e os setores mais afetados pela pandemia "custe o que custar". O executivo suportou 70% dos salários brutos dos franceses que ficaram em casa devido ao vírus e contribuiu com diferentes ajudas para as pequenas e médias empresas, que serviram para pagar rendas e contas correntes durante meses a fio, como aconteceu por exemplo no setor da restauração.
Política Externa
A nível internacional, Emmanuel Macron tentou projetar a França ao colocar-se desde o início ao lado das grandes figuras mundiais, como o Presidente russo, Vladimir Putin, recebido logo em maio de 2017 no Palácio de Versalhes, e o ex-presidente norte-americano Donald Trump, que recebeu em Paris para o tradicional desfile militar do 14 de julho. Não conseguiu, no entanto, mudar a atitude de Trump, que manteve os Estados Unidos fora do Acordo de Paris sobre o clima e abandonou o pacto internacional sobre o programa nuclear do Irão.
Emmanuel Macron tentou também desde o início do seu mandato refundar o projeto europeu, dando-lhe um nova energia e impulso, especialmente através da constituição de um projeto de defesa comum. Sobre a NATO, a aliança transatlântica, o chefe de Estado francês chegou a dizer que estava em "morte cerebral".
A guerra na Ucrânia, coincidindo com a presidência francesa do Conselho da União Europeia, veio reforçar a posição do líder francês e outros países, como a Alemanha, anunciaram investimentos em armamento ou de apoio a uma maior independência da Europa face ao resto do Mundo no que diz respeito à energia, matérias-primas e reindustrialização.
No conflito com a Ucrânia, invadida pela Rússia a 24 de fevereiro, o Presidente francês tem tentado posicionar-se como mediador com o Kremlin. Macron esteve em Moscovo antes do início da guerra e desde dezembro manteve quase 30 contactos oficiais com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, bem como várias conversas telefónicas de horas com Vladimir Putin.
Dificuldades no Governo
Diferentes ministros do Governo de Emmanuel Macron tiveram problemas com a justiça. Logo em junho de 2017, os ministros vindos do partido Movimento Democrático - François Bayrou, Marielle de Sarnez e Sylvie Goulard -, que apoiou Macron quando ele ainda era candidato às eleições, tiveram de sair devido a suspeitas relacionadas com falsos assistentes no Parlamento Europeu.
Em 2020, o Presidente chama para ministro do Interior Gérald Darmanin, investigado por violação, cujas acusações foram arquivadas como sem fundamento.
Para a pasta da Justiça, Emmanuel Macron escolhe também em 2020 o célebre advogado Éric Dupond-Moretti, opção muito criticada pelos magistrados. Em julho de 2021, o ministro da Justiça começou a ser investigado por ter alegadamente tentado prejudicar elementos do Ministério Público que lhe fizeram frente em diversos processos enquanto ainda era advogado.
A própria equipa de Emmanuel Macron também foi visada por problemas de justiça. Alexandre Benalla, antigo responsável pela segurança do Presidente, foi identificado na manifestação do 01 de maio de 2018 equipado como polícia e golpeou vários manifestantes com violência. Em 2021, Benalla foi condenado a três anos de prisão, um deles de prisão efetiva no domicílio com pulseira eletrónica.
Comunicação com os franceses
A comunicação entre Emmanuel Macron e os franceses nem sempre foi pacífica. Em setembro de 2018, o Presidente disse a um jovem que visitava o Eliseu e se queixava de enviar o seu currículo e não encontrar trabalho, que em França havia muito trabalho e que bastaria atravessar a rua para encontrar um emprego.
"Na hotelaria, nos cafés e na restauração, na construção. Não há um único lugar onde eu vá em que não haja procura de mão-de-obra, claro que é preciso estar disposto a enfrentar as dificuldades de certos trabalhos. Eu atravesso a rua e encontro um trabalho", disse então o Presidente. A declaração valeu a Macron críticas sobre uma postura altiva perante as dificuldades dos jovens franceses.
Noutras ocasiões, Emmanuel Macron utilizou expressões populares que não agradaram aos franceses. A mais recente ocorreu durante uma entrevista, com o Presidente a declarar que o seu objetivo era "chatear" os franceses não vacinados, limitando o mais possível as suas vidas.
Macron reconheceu que muitas vezes não soube falar aos franceses, pedindo desculpa pelo tom empregue em muitas ocasiões. Os pontos mais baixos da sua popularidade durante o mandato coincidem com certas frases pronunciadas em público.
Quando começou o mandato, o líder francês tinha uma taxa de aprovação de 64%, mas depois da frase sobre a facilidade em encontrar emprego em França, que foi seguida pelo movimento dos 'coletes amarelos', a popularidade baixou para 29% e chegou aos 23%. Nos últimos dois anos, com a pandemia da covid-19, a popularidade do Presidente manteve-se estável na casa dos 40%.
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