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Organizações querem que Brasil receba especialistas em justiça racial

O Brasil deveria convidar o novo mecanismo da ONU sobre justiça e igualdade racial na segurança pública para examinar o problema do racismo estrutural no país, defenderam hoje mais de 100 organizações numa carta aberta.

Organizações querem que Brasil receba especialistas em justiça racial
Notícias ao Minuto

15:24 - 18/04/22 por Lusa

Mundo Justiça racial

Num comunicado, a Human Rights Watch (HRW) explicou que o documento foi enviado ao ministro das relações Exteriores do Brasil, Carlos Alberto Franco França, e defende que "um convite oficial do Governo brasileiro é necessário para que os especialistas da ONU possam visitar o Brasil, onde o abuso policial, desproporcionalmente contra negros, é um problema crónico".

A polícia matou mais de 6.400 pessoas em 2020, de acordo com os últimos dados disponíveis, o maior número já registado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Embora representem cerca de 56% da população brasileira, os negros são quase 80% dos mortos pela polícia.

"A violência policial tem um enorme impacto sobre a população negra no Brasil", disse Maria Laura Canineu, diretora do escritório do Brasil da HRW.

"O Governo deveria convidar os especialistas da ONU para avaliar a situação e propor recomendações importantes para garantir forças policiais profissionais e eficientes, que protejam as comunidades e defendam o Estado de Direito, sem discriminação", acrescentou a especialista.

Além da HRW, os signatários da carta incluem movimentos que trabalham em comunidades afetadas pela violência policial, associações de mães de vítimas dessa violência, organizações com foco na igualdade racial, organizações nacionais e internacionais de direitos humanos e instituições públicas e académicas.

A organização avaliou que a visita dos especialistas ao Brasil seria importante já que o Mecanismo Internacional de Especialistas Independentes para Avançar em direção à Justiça Racial e à Igualdade no Contexto da Aplicação da Lei, o nome oficial do grupo, poderia recolher informações e reunir-se com membros das comunidades diretamente afetadas, organizações da sociedade civil, especialistas em segurança pública, autoridades do poder judiciário e do Ministério Público, e representantes dos governos federal e estaduais.

"A sua avaliação e recomendações independentes podem ajudar e fornecer evidências às autoridades federais e estaduais na formulação de reformas que visem defender os direitos fundamentais e promover a justiça e a igualdade raciais", destacou a HRW.

Em julho de 2021, o Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou uma resolução que criou este mecanismo "a fim de promover mudanças transformadoras para a justiça e igualdade racial no contexto da aplicação da lei globalmente".

O grupo deverá apresentar seu primeiro relatório na 51.ª sessão do Conselho de Direitos Humanos, prevista para o segundo semestre de 2022.

O mecanismo passou a ser encarregado de examinar as causas do racismo estrutural sistémico, particularmente no uso excessivo da força e outras violações da lei internacional de direitos humanos por agentes de segurança pública contra africanos e afrodescendentes.

Em dezembro de 2021 foram nomeados três especialistas membros do mecanismo: a juíza Yvonne Mokgoro da África do Sul, Tracie L. Keesee, dos Estados Unidos, e Juan Méndez, da Argentina.

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