Timor-Leste: José Ramos-Horta reafirma vontade de diálogo após vitória
José Ramos-Horta, que lidera com ampla vantagem as eleições presidenciais em Timor-Leste, disse hoje não estar surpreendido com a vitória, que ecoa a adesão que teve nos últimos meses, reafirmando vontade de dialogar quando tomar posse.
© Reuters
Mundo Eleições
"A mim a aos meus apoiantes principais não me surpreende o resultado, dado o ambiente de adesão à minha campanha em todo o país e as nossas próprias sondagens realizadas nos meses antes, até ao nível das aldeias", disse em declarações à Lusa.
Ramos-Horta disse que há ainda que esperar a conclusão da contagem pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e depois o resto da confirmação dos resultados, que lhe dão, com mais de 70% dos votos contados, uma vantagem de 21 pontos percentuais sobre Francisco Guterres Lú-Olo.
Um dos resultados que marca a votação é ao que tudo indica a derrota pela primeira vez da Fretilin, que apoia a candidatura de Lú-Olo, no município de Lospalos, algo que segundo Ramos-Horta deve levar o partido a uma reflexão.
"Sim, a perda de Lospalos é obviamente um acontecimento inédito e que dá uma mensagem clara à liderança da Fretilin para repensar toda a sua política, a sua imagem, porque o eleitorado mudou muito nos últimos 20 anos", disse.
"Aliás, todos nós devemos fazer um exercício de apreciação do resultado", considerou.
Ramos-Horta considerou que além de um 'chumbo' ao atual chefe de Estado o resultado representa igualmente um 'chumbo' do Governo e dos três partidos que o formam, que apoiaram Lú-Olo na segunda volta.
"Creio que o Presidente, estando muito associado ao Governo e aos partidos que estão no Governo, foi penalizado também. Para além dos factos que foram muito debatidos durante dois anos, de violações dos poderes do Presidente em termos da nossa Constituição e a forma como engendrou o dito oitavo Governo", afirmou Ramos-Horta.
"O Governo não conseguiu debelar a crise económica que é resultado em grande parte da covid-19. Tendo à sua disposição o fundo petrolífero, a crise económica e social e humanitária poderia ter sido muito mais debelada do que foi", afirmou.
Ramos-Horta considerou que o povo timorense "fez um juízo" sobre esta atuação do Governo, que falhou na resposta à crise.
Agora abrem-se várias incógnitas, nomeadamente se Ramos-Horta vai ou não avançar com a dissolução do parlamento, como exige o CNRT, de Xanana Gusmão, maior partido a apoiar a sua candidatura.
O CNRT questiona a legalidade do próprio presidente do parlamento, Aniceto Guterres Lopes, e do atual Governo.
"Tomo posse perante o parlamento, numa cerimónia agendada pelo presidente do parlamento perante a nação e através do parlamento. Nenhum cenário é excluído", disse, questionado sobre se tomará posse com o parlamento ainda liderado pelo atual presidente.
Sobre alterações na maioria, Ramos-Horta disse que "a democracia em geral é extremamente dinâmica" e que a de Timor-Leste "é muito mais ainda".
"O que importa para mim é diálogo com todos os partidos com assento no parlamento para tentar criar um novo clima de cooperação que seja mais saudável para a própria imagem do parlamento perante o eleitorado", afirmou.
"Cada partido assente no parlamento tem esse interesse, ao ver o resultado das eleições. Não hesitarei em conversar com as bancadas, em grupo, um por um, para encontrarmos uma solução para o impasse político que o país vive desde 2017", considerou.
Ramos-Horta, que toma posse a 20 de maio, disse que o parlamento em si "é soberano, independentemente de arranjos ocasionais que duram mais tempo ou menos tempo", e que as maiorias deixam de o ser para se formar outras, como ocorreu com a atual.
"Mas mesmo com a atual maioria é possível dialogo para encontrar uma solução para evitar quaisquer agudização da situação política e da crise económica, porque a situação económica mundial é severa", afirmou.
Referindo-se à situação na Ucrânia e ao impacto dos confinamentos na China na rede mundial de abastecimento, Ramos-Horta disse que Timor-Leste tem que estar preparado para responder a um agravamento da situação económica, com aumento de preços e perda do poder de compra.
Ramos-Horta disse que depois de confirmado o resultado eleitoral vai começar o diálogo com os partidos, dentro e fora do parlamento, que apoiaram a sua candidatura, para ouvir "sensibilidades e prioridades", considerando que a preferência seria para os partidos no parlamento "iniciarem diálogo entre si".
"E estou disponível para conversar com o Presidente, Francisco Guterres Lú-Olo, por quem continuo a nutrir muito respeito, com o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, e com Mari Alkatiri, apesar de dizer que não precisa de mim. É o secretário-geral do maior partido e conversarei com ele, se ele mudar de opinião", afirmou.
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