As multidões agitaram bandeiras sírias e entoaram cânticos para celebrar a vitória dos rebeldes que pôs fim ao regime de cinco décadas da família al-Assad, em manifestações na capital, Damasco, na maior cidade do país, Alepo, no norte, onde o aeroporto será reaberto ao tráfego civil, na próxima terça-feira, e em Idlib, onde os rebeldes lançaram a sua ofensiva em novembro.
Dia "15/3/2025, a mesma data, mas agora somos vitoriosos", lia-se num cartaz carregado por um homem na Praça Umayyad, em Damasco, enquanto helicópteros lançavam flores sobre a multidão.
Até há pouco tempo, os helicópteros eram utilizados pelas forças leais a al-Assad para lançar bombas nas zonas ocupadas pelos opositores. Com o lançamento de flores, as novas autoridades do país querem enviar uma mensagem.
"Hoje, os helicópteros estão a dar-vos esperança em vez de dor, paz em vez de medo", lê-se num papel em árabe atado a uma flor que foi lançada sobre a Praça Umayyad.
Yaman al-Ali disse que veio celebrar a vitória da "revolução", que apoia desde 2011. "O meu sentimento, claro, é incrivelmente, incrivelmente, incrivelmente grande. Primeiro, porque derrubámos Bashar al-Assad. Claro que estamos a exigir a sua execução, não apenas o seu derrube".
"Hoje, pela graça de Deus, viemos expressar a nossa alegria pela vitória", disse Lamyaa al-Doueish, outro manifestante em Damasco. "Este é o primeiro ano, após 14 anos, em que Deus nos abençoou com a vitória."
O conflito na Síria começou com uma das revoltas populares contra os ditadores árabes, conhecida como a 'Primavera Árabe' de 2011, antes de al-Assad esmagar os protestos, em grande parte pacíficos, e desencadear uma guerra civil.
O conflito que se seguiu provocou mais de 500.000 mortos e obrigou a que mais de cinco milhões de outros deixassem o país como reugiados.
Em novembro, grupos insurrectos liderados pelo grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham, ou HTS, iniciaram uma ofensiva terrestre que, em poucos dias, capturou as quatro maiores cidades do país, começando por Alepo, no norte, e depois Hama e Homs, no centro da Síria.
Em 08 de dezembro, os rebeldes marcharam para Damasco, marcando o fim dos 54 anos do regime da família al-Assad, considerado um dos mais brutais da região. Pelo meio, Bashar al-Assad fugiu para a Rússia, seu principal aliado, onde se encontra exilado.
As novas autoridades do país, lideradas pelo Presidente interino Ahmad al-Chareh, têm enfrentado sérios obstáculos.
Poucos dias antes do aniversário de hoje, confrontos entre combatentes leais a al-Assad e forças dos novos governantes do país desencadearam a pior violência desde a guerra civil, deixando cerca de 1.000 mortos, a maioria dos quais membros da comunidade minoritária alauíta do Presidente deposto.
No início desta semana, o Governo interino assinou um acordo com a autoridade curda que controla o nordeste do país e, dias depois, al-Chareh promulgou uma constituição temporária que deixa a Síria sob o domínio islamista, prometendo proteger os direitos de todos os sírios durante cinco anos, durante uma fase de transição.
Após a queda de al-Assad, a grande maioria dos sírios continua a viver na pobreza e os responsáveis sírios e os países da região têm apelado para que os países ocidentais levantem as sanções impostas há mais de uma década.
Os Estados Unidos e a Europa têm hesitado em levantar as sanções antes de haver uma transição política clara, democrática e inclusiva das minorias e da sociedade civil da Síria.
Ao mesmo tempo, a Síria precisa desesperadamente de dinheiro para se reconstruir após anos de guerra.
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