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Marine Le Pen, a "filha do diabo" às portas do Eliseu

Herdeira do apelido sinónimo do ultra-nacionalismo em França, Marine Le Pen vê finalmente a possibilidade de uma eleição presidencial, comprovando a apreciação do seu pai, Jean-Marie, de que "a filha do diabo pode ser muito sedutora".

Marine Le Pen, a "filha do diabo" às portas do Eliseu
Notícias ao Minuto

07:13 - 22/04/22 por Lusa

Mundo Le Pen

Mais de 10 anos após a sua subida à liderança da Frente Nacional, que rebatizou de União Nacional, e a poucos dias de enfrentar Emmannuel Macron na segunda volta das eleições presidenciais francesas, Marine Le Pen conseguiu criar uma nova dinâmica política para o seu partido e para a extrema-direita em França, acumulando vitórias que podem culminar na chegada ao Eliseu.

Marion Anne Perrine Le Pen, conhecida como Marine Le Pen, nasceu em 1968 e é a mais nova de três irmãs. Exposta desde cedo à vida política, terá sido um atentado à bomba de que a família Le Pen foi vítima quando tinha apenas oito anos que despertou a consciência política de Marine.

Militante da Frente Nacional desde os 18 anos, a líder da extrema-direita formou-se em Direito e chegou mesmo a exercer durante seis anos. Desde cedo que Marine terá demonstrado dons de oratória, reconhecidos pelo pai e pelos colaboradores mais próximos do partido.

No documentário "O Diabo da República" sobre os 40 anos da Frente Nacional em França, realizado em 2012, Jean-Marie Le Pen dizia sobre Marine Le Pen que "a filha do diabo pode ser muito sedutora". Mas as divergências entre ambos foram crescendo e a relação degradou-se.

A candidata ao Eliseu assumiu a liderança da Frente Nacional em 2011, estando na arena política como eleita local desde 1998 e tendo sido eleita eurodeputada pela primeira vez em 2004 - renovando consecutivamente mandatos no Parlamento Europeu até 2017, altura em que foi eleita deputada em França.

Tendo observado de perto a liderança do pai, Marine optou por não enveredar pelo negacionismo do Holocausto ou por declarar que há uma "desigualdade entre as raças" como Jean-Marie Le Pen. No entanto, as suas intervenções públicas não levantam dúvidas em relação às suas ideias. 

Em 2007, a candidata disse que "a imigração seria o grande problema do século XXI", em 2010 disse que era favorável à pena de morte, em 2011 que não se devia abrir o casamento a pessoas do mesmo sexo e em 2017 que a França não era responsável pelo Vél' d'Hiv onde 13 mil judeus foram remetidos pelo regime de Vichy aos alemães em plena Segunda Guerra Mundial.

Já em fevereiro de 2022 disse que se opunha à utilização do véu muçulmano na rua.

Esta é a terceira eleição presidencial de Marine Le Pen e o choque da eliminação da segunda volta em 2017, que aconteceu sobretudo devido a uma má prestação no debate frente a Emmanuel Macron, fê-la assumir uma nova postura pública, mudando o nome do partido para União Nacional e também deixando de defender abertamente a saída da França da União Europeia.

Partindo como uma candidata em dificuldades no início desta pré-campanha devido a problemas financeiros do partido e à ameaça do ex-jornalista Eric Zémmour, que dizia que Marine Le Pen era "de esquerda" por apresentar medidas "pouco duras" contra a imigração, a líder da extrema-direita apostou no poder de compra e receio da globalização para galvanizar o eleitorado, tendo conseguido colocar-se numa posição que a pode levar agora ao Eliseu.

Uma pedra no sapato da candidata são as acusações por parte das autoridades europeias, agora investigadas pelas autoridades francesas, de desvios de fundos enquanto era eurodeputada. Segundo o Parlamento Europeu, Marine Le Pen terá burlado pessoalmente em 140 mil euros os cofres europeus, numa quantia final de mais de 600 mil euros repartidos entre vários eurodeputados.

Já as contas do próprio partido também são questionadas, com a União Nacional a ter recebido um empréstimo de 10,6 milhões de euros de um banco húngaro próximo do regime de Órban. Em 2014, para as eleições regionais, o partido tinha pedido nove milhões de euros a um banco russo.

Com um divórcio muito público dos seus pais quando era adolescente, Marine Le Pen escolheu manter a sua vida privada longe dos holofotes, nunca aparecendo publicamente com os seus três filhos. Agora, pela primeira vez, a candidata dá a conhecer-se na intimidade, mostrando fotos nas redes sociais com os seus gatos.

Algo que Marine Le Pen não consegue manter na esfera privada é a relação com o seu pai. Em 2015, Jean-Marie Le Pen foi expulso do partido que ajudou a fundar e continua a ser ativo mediaticamente, falando muitas vezes contra a sua filha. Marine continua a dizer que o pai "é o homem da sua vida", mas que a relação entre os dois "é uma tragédia grega".

"[Se eu for eleita] Estou convencida de que ele ficará feliz. É um patriota, convicto, que lutou toda a sua vida. Apesar das diferenças que podemos ter, é claro que ele ficará feliz ao ver que a França se dá uma oportunidade para romper com políticas que foram nocivas para o país", disse há algumas semanas Marine Le Pen.

Marine Le Pen e Emmanuel Macron confrontam-se para a segunda volta das eleições presidenciais francesas no dia 24 de abril.

Leia Também: Macron, o recandidato presidencial em busca de "refundar" o país

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