Na opinião do padre, que nas últimas décadas cumpriu missões em vários países africanos, o próximo Papa pode bem ser o cardeal Peter Turkson, do Gana, ideia que já defendia por altura do conclave que elegeu Jorge Mario Bergoglio, que escolheu o nome Papal de Francisco, em honra de São Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Franciscanos.
A possível eleição de um Papa africano surge numa conjuntura em que a "Igreja se está a deslocar geograficamente, não sendo mais focada na Europa nem na América do Norte", sendo hoje mais "latino-americana, africana e asiática" devido ao aumento do número de crentes nestas regiões, tendência que se acentuou nos últimos 12 anos.
Um Papa africano iria significar muito para África, assim como significou para a América Latina ter o Papa Francisco, porque, na prática, isso seria um "reconhecimento à escala do mundo do papel que a Igreja Católica desempenha no continente".
"Eu acho que seria muito bom para a Igreja que o próximo Papa fosse ou africano ou asiático, uma vez que acabamos de ter um latino-americano. Essa é a minha perspetiva", salientou.
Na sua ótica, a Igreja Católica em África tem agora um peso muito grande, em termos políticos, sociais, económicos, culturais.
"Eu acho que a Igreja em África, se tivesse um Papa [africano], talvez pudesse diminuir as realidades de pobreza, de injustiça, de violação dos direitos humanos, de falta de democracia, etc", declarou.
Tony Neves, que esteve em Angola vários anos e que, como conselheiro geral, acompanha os missionários espiritanos em países de língua portuguesa e espanhola e é responsável pela comunicação na congregacao, disse conhecer relativamente bem todos os cardeais africanos que estarão presentes no próximo Conclave, destacando que há três que, pelo seu perfil, podem ser eleitos.
O primeiro, indicou, seria o cardeal ganês Peter Turkson, um homem experiente e capaz e que pode dar continuidade àquilo "que o Papa Francisco lançou".
"Existem ainda dois outros cardeais que também são muito falados, eventualmente por outras razões, por estarem menos na linha [de pensamento] do Papa [Francisco] e mais numa linha tradicional, e aí refiro o cardeal de Kinshasa, na República Democrática do Congo, Fridolin Ambongo Besungu, que é o presidente da Conferência dos Bispos de África e Madagáscar, portanto alguém que tem um protagonismo enorme em África, e que por isso é alguém que pode ser considerado papável", contextualizou.
"E depois temos o eterno cardeal [Robert] Sarah [da Guiné-Conacri], que faria as delícias de uma ala muito conservadora da Igreja, mas que é sempre um nome que aparece, nomeadamente nas redes sociais. Apesar de em junho fazer 80 anos [idade limite para votar e ser eleito no conclave]", citou.
Segundo explicou, o cardeal Ambongo é uma espécie de "meio-termo" entre os três cardeais africanos citados.
Contudo, por exemplo, em todas as questões ligadas à homossexualidade este cardeal democrático-congolês marcou uma rutura face ao Santo Padre, em nome dos bispos de África, que representava, e foi a Roma dizer que não aceitava o documento "Fiducia Supplicans" que o Papa Francisco assinou no Dicastério para a Doutrina da Fé publicado em 2023, onde, entre outras coisas, havia a abertura a bênçãos a casais homossexuais, recordou o pároco.
No entanto, se Tony Neves pudesse escolher alguém, o eleito seria o arcebispo de Bangui, na República Centro-Africana, Dieudonné Nzapalainga, que classifica de alguém "extremamente culto" e que "poderia ser um excelente Papa".
África representa 20% dos 1,4 mil milhões de católicos do mundo, segundo os dados do gabinete de estatística do Vaticano.
O Papa Francisco morreu na segunda-feira, aos 88 anos, depois de estar internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo recebido alta a 23 de março.
A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano.
As cerimónias fúnebres terão lugar no sábado, às 10:00 locais (09:00 em Lisboa), na Praça de São Pedro, e o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, estará presente.
O corpo será depois trasladado para a Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, onde o Papa será sepultado.
Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta a liderar a Igreja Católica.
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