Ucrânia. Esquerda europeia pede aposta na diplomacia para alcançar a paz

Vários líderes da esquerda europeia reunidos hoje em Madrid pediram à comunidade internacional para apostar na "diplomacia" para que se consiga a paz na Ucrânia, recusando que mais ajuda militar leve ao fim da guerra.

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© MIGUEL RIOPA/AFP via Getty Images

Lusa
22/04/2022 17:15 ‧ 22/04/2022 por Lusa

Mundo

Rússia/Ucrânia

"Armas só não vão parar a guerra. O que falta é o caminho diplomático para parar a guerra", disse a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, uma das intervenientes na Conferência Europeia para a Paz, realizada na capital espanhola.

A líder bloquista constatou que "a Europa tem mandado equipamento militar", insistindo que "o problema aqui é que a Europa não tem dado outro passo fundamental, que é usar a diplomacia".

"Claro que o povo ucraniano tem direito a resistir à invasão, mas também é verdade que nenhuma guerra para sem um acordo para a paz e o que não é compreensível é que a União Europeia (UE) ainda não tenha dado um único passo de um ponto de vista diplomático, sério, para essa paz", concluiu.

Esta mensagem também foi defendida pelo antigo líder trabalhista britânico Jeremy Corbyn, que criticou o facto de a linguagem da paz "não estar a ser ouvida" neste momento, apelando à necessidade de repensar as alianças no futuro.

"Estamos aqui para apelar à paz. A Rússia tem de ser condenada pelo que fez. Mas isto tem de ser uma oportunidade para conseguir a paz. Investigaremos todos os crimes no final da guerra", disse Jeremy Corbyn.

O ex-líder do Partido Trabalhista britânico criticou os media por estarem agora concentrados na guerra na Ucrânia numa altura em que, segundo ele, "há mais de 40 conflitos em todo o mundo".

A secretária-geral do Unidas Podemos e ministra dos Direitos Sociais espanhola, Ione Belarra, também apelou para se "apostar tudo na diplomacia" para alcançar a paz na Ucrânia e rejeitou o argumento de que a guerra termina com mais guerra, enviando mais armas para a Ucrânia e aumentando as despesas militares.

Esta guerra, que se arrasta há quase dois meses, só terminará, disse, de duas maneiras: "Com uma internacionalização do conflito entre potências nucleares com consequências absolutamente imprevisíveis, ou com um acordo de paz através dos canais diplomáticos".

Estas ideias foram o tom geral dos restantes discursos, que sublinharam a urgência de pressionar os Governos para que a diplomacia avance e que o envio de mais armas para a Ucrânia apenas irá conduzir ao prolongamento do conflito e irá causar "mais dor e mais mortes".

A conferência organizada pelo Unidas Podemos também contou com a participação de dirigentes ou representantes de partidos ou organizações como a França Insubmissa, do Syriza (Grécia), do Sinn Fein (Irlanda), do DEMA (Itália), do PTB (Bélgica), da Sinistra Italiana ou do HDP (Turquia), entre outros.

A reunião foi organizada no âmbito de um Manifesto pela Paz na Ucrânia subscrito e divulgado no início da semana por 570 académicos e políticos internacionais, que exigiram um cessar-fogo imediato.

"Exigimos um cessar-fogo imediato e apoiamos as negociações para uma paz plena e duradoura. As Nações Unidas e outros órgãos internacionais relevantes devem estar prontos para garantir qualquer acordo", lê-se no documento assinado, entre muitos outros, por Noam Chomsky, linguista, filósofo, cientista político e ativista norte-americano; Jeremy Corbyn; Rafael Correa, ex-Presidente de Equador; Ione Belarra e Catarina Martins.

Para os signatários "os efeitos da invasão russa da Ucrânia foram devastadores: morte, destruição e milhões de pessoas forçadas a fugir de suas casas" e "à medida que a guerra se intensifica, aumenta o risco de aniquilação nuclear".

Assim, "as consequências sociais e económicas desta guerra já estão a ser sentidas na Ucrânia, na Rússia e em todo o mundo", realçam.

"Por todas estas razões, as partes, organizações e indivíduos abaixo-assinados exigem: Paz", frisam.

Por outro lado, os signatários do manifesto apelam aos "Governos e à comunicação social para deixarem de lado toda linguagem beligerante e promoverem e fortalecerem o diálogo com base nisso", alertando que "a escalada só levará a mais derramamento de sangue, deslocamento e danos económicos infligidos a pessoas inocentes".

A União Europeia, os Estados Unidos e outros países, como o Reino Unido ou o Japão, impuseram duras sanções à Rússia por ter invadido a Ucrânia.

Além das sanções, os países ocidentais têm fornecido armamento à Ucrânia para enfrentar as forças russas numa guerra que cumpre hoje o 58.º dia.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A ofensiva militar causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de cinco milhões das quais para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU -- a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Leia Também: Negociações entre Moscovo e Kyiv "estão a derrapar", diz Lavrov

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