O presidente de França, Emmanuel Macron, falou, esta sexta-feira, sobre os alegados crimes cometidos por tropas russas contra civis na Ucrânia. Em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, no âmbito das eleições francesas, Macron frisou que “é difícil ser confrontado com a negação dos factos”.
“É difícil ser confrontado com a negação dos factos. É difícil passar horas a conversar com o presidente [Volodymyr Zelensky], com as pessoas que vivenciam o horror, um horror manifesto. Estamos todos chocados”, começou por afirmar o presidente cessante. “Temos à nossa frente alguém que nega, que ri e que repete que é apenas uma encenação”, acrescentou, referindo-se ao presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Macron voltou a frisar que interrompeu as conversações com Putin após a denúncia do massacre de Bucha - tal como já havia dito à estação francesa France 5 - mas reconhece que as conversas entre os países europeus e o líder russo são “úteis” e “necessárias” para o caminho da paz.
“Falei com ele [Putin] todas as vezes que Zelensky me pediu. Não devemos esquecer que o presidente ucraniano quer esse contacto. É neste contexto que o nosso papel é útil. E será necessário prepararmo-nos para a paz. Um dia haverá cessar-fogo. Haverá países de garantia, e nós estaremos entre eles”, explicou.
E alertou: “Acho que temos de ter muito cuidado. Digo isto com muita gravidade e, ouso dizer, com um peso ético. Mas, se por cansaço, optarmos por não falar mais com ele, deixaremos a responsabilidade de falar com Vladimir Putin para o presidente turco, o primeiro-ministro indiano, o presidente chinês. E decidimos que os não-europeus irão construir a paz na Europa. Portanto, mesmo que seja muito difícil, mesmo que às vezes seja ineficaz, devemos insistir”.
Sublinhe-se que os primeiros relatos de crimes contra civis na cidade ucraniana de Bucha surgiram no início do mês. Segundo as autoridades ucranianas, civis foram violados, torturados e mortos pelas tropas russas. Os ataques têm sido negados pelo Kremlin, que defende que as imagens divulgadas são “falsas” e têm como objetivo denegrir a imagem do exército russo.
Ao 58.º dia, a ofensiva militar russa na Ucrânia já matou quase dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior. Há ainda mais de cinco milhões de refugiados.
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