Meios russos noticiaram que acusações similares foram feitas contra Ilya Krasilshchik, o antigo editor de um dos principais sítios noticiosos independentes, o Meduza.
Essas decisões contra dois críticos relevantes do Kremlin integram-se num movimento mais geral de repressão de indivíduos que criticam a guerra promovida pela Federação Russa na Ucrânia.
Moscovo adotou uma lei que criminaliza a divulgação de "informação falsa" sobre os seus militares, pouco depois de as suas tropas terem invadido a Ucrânia, no final de fevereiro. A ofensa é punível com uma pena que pode ir até 15 anos de prisão. Os defensores dos direitos humanos já contaram 32 processos contra críticos da invasão.
Kara-Murza é um jornalista e antigo associado do ex-vice-primeiro-ministro Boris Nemtsov, assassinado em 2015, depois de se passar a opor a Vladimir Putin, e do ex-membro da Juventude Comunista e oligarca Mikhail Khodorkovsky, que também se passou a opor a Putin e esteve detido durante dez anos na Federação Russa.
O próprio Kara-Murza chegou a estar hospitalizado, por duas vezes, com sintomas de envenenamento, em 2015 e 2017.
O advogado Vadim Prokhorov disse a jornalistas que a acusação de divulgar informação falsa contra Kara-Murza cita um discurso, feito em 15 de março, na Câmara dos Representantes do Estado do Arizona, como base das últimas acusações.
Em março e no início de abril, o ativista fez várias declarações públicas contra a invasão da Ucrânia pelos militares russos. Durante uma entrevista, em 11 de abril, na cadeia televisiva norte-americana CNN, descreveu o Kremlin como "um regime de assassinos".
Kara-Murza foi detido horas depois da entrevista e enclausurado durante 15 dias, acusado de desobediência a um agente da polícia. Prokhorov disse que o seu cliente deveria ter estado hoje no tribunal para uma audiência, mas, em vez disso, foi levado para interrogatório na sede da autoridade federal de investigação. Prokhorov acrescentou que Kara-Murza manteve a sua declaração de inocência.
Um porta-voz de um tribunal moscovita disse que os investigadores tinham solicitado a sua prisão preventiva durante um período de dois meses.
Krasilshchik, um executivo do setor tecnológico crítico de Putin que saiu da Federação Russa no início de março, disse ao Meduza que tinha sabido do caso contra si pelas notícias, mas que ainda estava por confirmar. A imprensa russa tem ligado as acusações a uma mensagem colocada na rede social Instagram, com imagens do que Krasilshchik disse serem restos humanos carbonizados em Bucha, nos arredores de Kyiv.
"Não se pode recuperar depois de se ver as imagens de Bucha", escrevia-se na legenda. "Você sente que o exército deste país, que é o seu, é capaz de tudo... tal como o país. Estamos a um passo de execuções em massa".
Também hoje, o veterano ativista dos direitos humanos Lev Ponomaryov disse que ia sair "temporariamente" do país.
"A situação à minha volta e da minha organização de defesa dos direitos humanos tem sido assustadora desde há muito", escreveu Ponomaryov no sítio da organização não governamental "Pelos Direitos Humanos", que dirigiu entre 2019 e 2021, quando foi fechada devido às controversas restrições legais aplicadas às entidades consideradas "agentes do estrangeiro".
Detalhou que "tem havido provocações constantes, ataques informáticos, detenções e -- vou ser franco -- informação ambígua de várias fontes a propósito de planos (das autoridades) sobre o que fazer comigo".
Ex-membro da Duma, Ponomaryov, que ajudou a fundar a mais velha organização de defesa dos direitos humanos na Federação Russa nos anos 1980, tem sido um opositor da invasão russa da Ucrânia e iniciado várias petições contra a mesma.
Na sua declaração de hoje, disse que iria "dar uma licença" a si próprio, para "olhar pela saúde (...), mas também pensar sobre a situação difícil na qual todos se encontram e planear mais atividades", as quais, acentuou, "não podem ser paradas".
Em todo o caso, garantiu: "Duvido que a minha estadia fora seja prolongada".
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