Guterres em Moscovo? "É tarde, mas as iniciativas diplomáticas falharam"

Francisco Louçã admite que o encontro entre o secretário-geral da ONU e o presidente russo acontece tarde, mas admite que "ele não se pode impor sobre um Conselho de Segurança".

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Tomásia Sousa
22/04/2022 23:07 ‧ 22/04/2022 por Tomásia Sousa

Política

Francisco Louçã

Francisco Louçã considera que a visita do secretário-geral da ONU a Moscovo, agendada para a próxima terça-feira, dia 26 de abril, acontece "tarde", mas sublinha que "nenhum sistema de intermediação funcionou até agora".

No espaço habitual de comentário esta sexta-feira, na SIC Notícias, o antigo coordenador do Bloco de Esquerda comentou o encontro entre António Guterres e Vladimir Putin, anunciado hoje, dias depois do pedido do português.

"É tarde, evidentemente, mas todas as iniciativas diplomáticas falharam. Macron tentou várias, houve várias tentativas de intermediação, houve as reuniões na Turquia... Mas, na verdade, nenhum sistema de intermediação funcionou até agora", salientou o economista.

Na visão de Louçã, não convém ao governo ucraniano que haja nenhum cessar-fogo e "evidentemente que o governo de Putin não quer nenhum cessar-fogo" nem "nenhum acordo", porque quer fixar fronteiras que não são negociáveis, em termos diplomáticos, "porque é uma partição da Ucrânia".

"Isso significa que, neste preciso momento, a viagem de Guterres é ainda mais difícil", comentou.

Ainda assim, frisa, "quem desvaloriza as dificuldades de Guterres não conhece o funcionamento da ONU".

"Ele não se pode impor sobre um Conselho de Segurança que tem regras que são fundadoras, isso não depende dele, não é boa ou má vontade dele", salientou Louçã, que defende que, "a haver alguma possibilidade de pontes ou de entendimentos, a ONU tem de ter um papel".

"Espero que Guterres possa dar algum passo nesse sentido", afirma, contrapondo que "no atual cenário de guerra isso parece muito difícil".

Zelensky no Parlamento e o "pretexto" do PCP

Sobre a intervenção de Volodymyr Zelensky na Assembleia da República por videoconferência, Francisco Louçã considera que "o Parlamento fez bem em ouvir" o presidente ucraniano naquela cerimónia.

Toda a intervenção constante de Zelensky tem sido eficaz. Toda a perceção do sofrimento que se desencadeou sobre a Ucrânia em função da invasão dá uma grande capacidade política a Zelensky."

Quanto à posição do PCP, que se recusou a participar na sessão solene, o antigo coordenador do Bloco defendeu que "cada partido tem o direito de tomar a sua posição", mas acredita que a alegação do PCP "é errada".

"Eu creio que é errada a alegação do PCP, não pela alegação de que Zelensky seja um homem de direita - é, mas é um homem de direita que chefia um governo, que foi eleito", referiu. "Aqui houve uma invasão e uma invasão com um pretexto muito difícil de explicar, que é falso, a desnazificação do território."

Sobre o facto de os comunistas terem considerado a referência ao 25 de Abril um insulto, Louçã considerou mesmo que "esse argumento foi um pretexto".

Leia Também: Da "crueza" ao "insulto". As reações dos partidos ao discurso de Zelensky

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