Esta é a primeira vez que o Groupe de Soutien à l'Islam et aux Musulmans (GSIM), associado à al-Qaeda, anuncia a captura de um paramilitar russo envolvido na luta contra o extremismo islâmico no Mali.
O GSIM não forneceu, porém, quaisquer elementos que permitam provar a veracidade do anúncio, feito através de um comunicado no domingo à noite.
Paris e Washington denunciam reiteradamente desde há meses a presença no Mali de "mercenários" do grupo paramilitar privado de capitais russos Wagner, acusações firmemente negadas até agora pela junta militar no poder em Bamaco desde 2020.
O GSIM afirma ter "capturado um soldado das forças Wagner russas na região de Segou", no centro do Mali, "durante a primeira semana de abril".
"Estas forças assassinas participaram com o exército do Mali numa operação de paraquedistas lançados sobre um mercado na aldeia de Moura, onde confrontaram vários 'mujahidin', antes de sitiarem esta localidade durante cinco dias e matarem centenas de civis inocentes", acrescenta o comunicado do GSIM, em árabe, sem mais pormenores sobre a ligação entre a captura do operacional russo e os acontecimentos em Moura.
A localidade foi palco de uma operação controversa do exército do Mali em finais de março. De acordo com as autoridades de Bamaco, o exército do Mali "neutralizou" 203 extremistas islâmicos, mas a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) acusa membros das Forças Armadas Malianas de terem executado sumariamente 300 civis, com a ajuda de combatentes estrangeiros.
De acordo com fontes concordantes, um cidadão russo participante numa operação com soldados malianos foi morto em 19 de abril no centro do Mali e essa foi a primeira morte confirmada de um russo em operações militares no país desde que a junta militar tomou o poder em 2020.
Entretanto, hoje, de acordo com fontes militares e um político local citados mas não identificados pela AFP, quatro soldados malianos foram mortos por um explosivo improvisado na área de Bandiagara-Bankass, no centro do Mali, mas o número de mortos deste ataque pode ser "provisório", segundo o político.
Este domingo, o exército maliano anunciou a morte de seis soldados em três ataques simultâneos com "veículos carregados de explosivos" contra três campos militares no centro do país. Entre outros danos, o exército do Mali informou que "um helicóptero foi ligeiramente danificado". Os ataques foram reivindicados por um grupo de combatentes do GSIM.
Num vídeo que se crê ter sido divulgado na Internet pela primeira vez no domingo, um helicóptero de design russo com as cores do exército maliano é visto aparentemente danificado no chão. Nas filmagens, que a AFP não conseguiu autenticar ou datar, dois homens brancos aparecem furtivamente ao lado do que parecem ser soldados malianos.
De acordo com um documento de uma fonte diplomática consultada recentemente pela AFP, quase todos os helicópteros malianos são pilotados por russos assistidos por copilotos malianos.
O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, condenou hoje "veementemente" os ataques perpetrados na véspera contra os campos das Forças Armadas do Mali, estimando que os "atentados terroristas ignóbeis" contra posições do exército "em áreas urbanas [causaram] traumas graves nas populações, já duramente atingidas pela crise multidimensional que o país atravessa".
A nação da África Ocidental enfrenta uma crise de segurança desde 2012, devido ao surgimento de vários grupos fundamentalistas afiliados à Al-Qaida e ao Estado Islâmico, que aproveitaram a debilidade do Estado para avançar pelo Sahel.
Em 2020, os militares tomaram o poder em Bamaco, negando-se a realizar eleições, o que conduziu à imposição de sanções económicas e a uma aproximação com a Rússia.
Há três semanas, o exército maliano recebeu um lote de material militar russo composto de helicópteros de combate, radares e outro equipamento, para reforçar as capacidades do país na luta antiterrorista.
A presença de efetivos russos no Mali é denunciada há meses pela França e os seus aliados europeus, que dizem tratar-se de mercenários da companhia privada de segurança Wagner.
A junta militar nega esta acusação, remetendo antes para uma parceria antiga com as forças armadas russas, mas a União Europeia decidiu, há dez dias, suspender a sua missão de treino militar no país, depois de Paris ter também anunciado a retirada das forças francesas que auxiliavam o Mali no combate ao extremismo islâmico.
O Mali foi um dos países que se abstiveram na votação das duas resoluções adotadas em março por esmagadora maioria pela Assembleia-Geral da ONU, exigindo que a Rússia suspendesse imediatamente as operações militares na Ucrânia.
Portugal tem atualmente dois efetivos militares empenhados na Minusma, que foi estabelecida pelo Conselho de Segurança da ONU em abril de 2013 para ajudar as autoridades de transição do Mali a estabilizar o país e garantir a segurança e proteção da população civil.
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