O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, afirmou, em entrevista ao Diário de Notícias, que acredita ser "altura de todos esses políticos que, por conta da Rússia, espalham a informação sobre a Ucrânia radical e extremista, aceitarem simplesmente que estão na folha de pagamento de violadores, assassinos e torturadores".
O governante ucraniano foi questionado acerca da recusa do PCP em marcar presença na sessão solene, no Parlamento, que contou com a intervenção do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
"Isso é exatamente o que a propaganda russa tem espalhado pela Europa nestes últimos anos, dizendo que os ucranianos são extremistas, nazis, de extrema-direita", apontou ainda Kuleba. E acrescentou: "No Parlamento ucraniano não temos nenhum partido de extrema-direita ou de extrema-esquerda e nunca tivemos um partido ou um político de extrema-direita no nosso Parlamento desde 2014, desde que a Revolução da Dignidade venceu".
No âmbito de algumas das críticas a que o Governo ucraniano tem sido sujeito, o ministro dos Negócios Estrangeiros questiona ainda como é que alguns desses críticos, depois "de terem visto Bucha, de terem sabido de centenas de civis deliberadamente torturados, mortos, violados", podem "atrever-se" a chamarem os ucranianos de "extremistas". "Nós não cometemos um ato de agressão contra outro país", ressalva ainda Kuleba.
Questionado acerca daquilo que espera de Portugal no âmbito deste conflito, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia elenca "três coisas". Em primeiro lugar, "fornecimento à Ucrânia de armas e de todo o equipamento militar necessário". Depois, um apoio "a todas as sanções impostas à Rússia pela União Europeia". E, por fim, um "apoio total" ao "processo de adesão da Ucrânia à UE num futuro previsível". Tudo isto "sem restrições e sem quaisquer reservas", assevera.
No que concerne a visita do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, a Moscovo, onde irá reunir-se com o presidente russo, Vladimir Putin, Dmytro Kuleba pede que o representante do organismo "fique claramente do lado da Ucrânia, como vítima de um crime de agressão cometido por um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas".
"Aquilo em que a Ucrânia quer que ele se foque é, claro, na evacuação de Mariupol, que é o local mais doloroso e sangrento no país. Espero que o apoio do secretário-geral da ONU seja capaz de salvar civis e também os defensores de Mariupol, do derramamento de sangue que a Rússia tem preparado para eles", acrescentou.
Sobre se a viagem de Guterres é a "última esperança" para salvar os últimos combatentes e civis que ainda se encontram na cidade portuária de Mariupol, mais concretamente no complexo Azovstal, Kuleba discorda da afirmação. "Porque se ele falhar, nós continuaremos a tentar salvá-los. Mas ele é uma das últimas autoridades internacionais que pode ter um papel crucial e fazer a diferença", assegura o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia.
Ao 62.º dia da invasão russa da Ucrânia, pelo menos dois mil civis morreram, segundo dados apurados pela Organização das Nações Unidas (ONU), que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
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