O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, está a ser duramente criticado pelo governo ucraniano, mas também pelo israelita, depois de uma entrevista em que comparou o presidente ucraniano ao infame ditador e genocida germânico, Adolf Hitler.
Durante uma entrevista ao canal italiano Rete 4, citada pela agência Reuters, o jornalista questionou a propaganda russa, que justifica a invasão na Ucrânia argumentando estar a "desnazificar" o país, mencionando a ascendência judaica de Volodymyr Zelensky.
Lavrov desvalorizou as raízes do líder ucraniano no contexto da guerra. "Quando eles dizem 'que tipo de desnazificação é esta quando somos judeus', eu acho que Hitler também tinha origens judaicas, portanto isso não importa. Durante muito tempo, ouvimos as pessoas sábias judias dizer que os maiores antissemitas são os próprios judeus", afirmou.
As palavras de Lavrov foram encaradas pelo conselheiro de Zelensky e diplomata ucraniano, Mykhailo Podolyak, como uma demonstração do totalitarismo russo.
"As declarações diretas e antissemitas de Lavrov (...) são a prova de que a Rússia é a sucessora da ideologia nazi. Tentando rescrever a história, Moscovo está simplesmente à procura de argumentos para justificar os homicídios em massa de ucranianos", acusou Podolyak.
#Lavrov's direct anti-Semitic statements, accusations of Jews of the WWII and the Holocaust are the evidence of Russia being a successor to Nazi ideology.
— Михайло Подоляк (@Podolyak_M) May 2, 2022
By trying to rewrite history, Moscow is simply looking for arguments to justify the mass murders of Ukrainians. (1/2)
Em Israel, onde o governo nacionalista está intrinsecamente ligado ao judaísmo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Yair Lapid, avisou que o embaixador russo iria ser convocado para uma "conversa dura" e considerou os comentários "imperdoáveis".
"É uma declaração imperdoável, escandalosa, um terrível erro histórico, e esperamos um pedido de desculpas", atirou Lapid, numa entrevista ao site israelita YNet.
A resposta do governo israelita é ríspida para aquela que tem sido a atitude de Israel nesta guerra. Devido à influência que a Rússia exerce na região, especialmente na Síria, o governo liderado por Naftali Bennett tem sido cauteloso nos comentários que faz sobre a Rússia e a invasão na Ucrânia.
No entanto, a declaração de Lavrov fez levantar os ânimos no país, e o diretor do memorial de Yad Vashem, o memorial aos seis milhões de judeus assassinados no Holocausto, também criticou o governante russo, considerando a comparação "um insulto e um duro golpe para as vítimas do verdadeiro nazismo".
Segundo os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a guerra na Ucrânia já fez mais de 3.000 mortos entre a população civil, mas a ONU alerta que o número real de mortos poderá ser muito superior depois de contabilizadas as baixas em cidades sitiadas e controladas pelos russos.
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