Em entrevista ao canal estatal de televisão grego ERT, Zelensky referiu que os civis de Mariupol estão com medo de entrar nos autocarros que a ONU e a Cruz Vermelha estão a disponibilizar para retirar as pessoas ainda "presas" na cidade porque têm medo de ser levados à força para a Rússia.
Zelensky sublinhou que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, garantiu, na sua visita à Ucrânia e encontro com o Presidente, na quinta-feira passada, que as pessoas que seriam retiradas daquela cidade portuária iriam para uma área controlada pelo Governo ucraniano.
"Queremos acreditar nisso", afirmou.
O Presidente ucraniano admitiu que, apesar de a ONU estar envolvida no processo, a retirada de civis da cidade ocupada "tem sido muito difícil" e lamentou que a evacuação não inclua "soldados nem feridos".
Um dos exemplos mais palpáveis de que a Rússia não pode ser confiável, disse Zelensky, foi o ataque com vários mísseis lançado contra Kiev durante a visita do secretário-geral das Nações Unidas, que foi à capital da Ucrânia depois de ir a Moscovo para conversar com o Presidente russo sobre a possibilidade de retirar civis das regiões ocupadas.
O líder ucraniano lembrou que há autocarros prontos para levar hoje civis da fábrica Azovstal para a cidade de Zaporijia.
"De Zaporijia em diante temos o controlo, ou seja, a partir daí somos responsáveis e podemos levá-los para um lugar seguro e dar-lhes alojamento temporário até que tenham a oportunidade de voltar", explicou.
No entanto, até chegarem àquela cidade, a cerca de 220 quilómetros de Mariupol, os civis terão de passar por "um calvário muito difícil", já que correm o risco de serem levados para território russo, possibilidade que, segundo referiu, explicou a Guterres durante a visita.
O secretário-geral da ONU assegurou-lhe, no entanto, que iria assumir, ele próprio e "a 100%", a responsabilidade pela situação, adiantando que o acordo com a Rússia prevê que as pessoas retiradas cheguem a território controlado pelo Governo ucraniano.
Zelensky referiu ainda, na entrevista, estimar que os danos causados a infraestruturas pelos ataques russos representem perdas de cerca de 57 mil milhões de euros, valor que contabiliza apenas as áreas controladas pela Ucrânia, já que nos territórios ocupados "não é possível analisar nada".
A Rússia lançou, na madrugada de 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de 2.700 civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A guerra causou a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de 5,3 milhões das quais para os países vizinhos.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
Leia Também: Ucrânia. Caso da Câmara de Setúbal enviado à Inspeção das Finanças