"A desinformação, financiada por Moscovo, tem afetado muito o sistema democrático da Moldova, mas as coisas parecem estar a mudar", disse à Lusa Victoria Dodon, diretora do Centro Independente de Jornalismo, um 'think tank' (grupo de reflexão) moldavo que monitoriza a situação dos media no país e a desinformação.
A situação dos media tem melhorado, com "alguns medias independentes, televisões e rádios 'online' muito mais transparentes e com qualidade jornalística", prosseguiu Victoria Dodon, apesar de admitir que as plataformas com mais recursos financeiros ainda pertencem a "políticos ou pessoas com dinheiro russo".
"Há medias que omitem determinadas informações e há canais que não informam nada sobre a guerra da Ucrânia, por exemplo. Falam sobre os refugiados e é só", explicou a analista, salientando que esses canais pró-Moscovo "estão em risco de perder as suas licenças".
"A propaganda russa tem algum efeito, mas, se olharmos para os resultados eleitorais, podemos concluir que essa estratégia não é tão eficaz como era, digamos, há dez anos", admitiu.
A eleição nos últimos anos de uma presidente e de um Governo pró-europeu mudou o panorama político do país. Para tal também ajudou o isolamento dos eleitores da província independentista da Transnístria, com as autoridades de Chisinau a exigirem o controlo central dos votos.
Os partidos socialista e comunista foram derrotados e há uma maioria constitucional favorável à UE.
"Na Moldova, a direita é pró-europeia e a esquerda é pró-russa. Essa é a única grande divisão ideológica que cá existe", salientou, por sua vez, a dirigente da organização não-governamental (ONG) moldava Ipsis Victoria Olari, que se mostra preocupada com a situação política da Transnístria, cujo isolamento internacional se tem traduzido no agravamento da situação de direitos humanos.
"Recentemente, as autoridades da Transnístria aprovaram uma lei que proíbe a população de desafiar o papel da Rússia na segurança do país" e "mesmo as pessoas que são contra a guerra na Ucrânia não podem falar", explicou.
Na província, com cerca de 350 mil habitantes, "não se fala sobre a guerra e as únicas notícias autorizadas são as transmitidas pela televisão russa", relatou a dirigente da ONG.
Com o fecho da fronteira com a Ucrânia, a Transnístria está a entrar num colapso económico, admitiu.
Atualmente, segundo enumerou a representante, "mais de 60% das exportações da Transnístria vão para a Moldova e Europa" porque beneficiam do acordo de livre associação entre Chisinau e Bruxelas.
Apesar disso, a divisão do país não é tema de debate interno.
"A Transnístria não está sequer no top 10 dos assuntos mais falados na Moldova", disse Victoria Olari, considerando que as "pessoas aceitarão algum tipo de solução com a Transnístria", que até pode passar pela separação, desde que o caminho da integração europeia não seja afetado.
"A Europa parece ser, de facto, o caminho da Moldova", reconheceu a dirigente.
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