Se há cinco ano o Presidente entrava pela primeira vez na arena pública e política e os franceses lhe deram um período de graça que terminou definitivamente em novembro de 2018 com o início do movimento dos 'coletes amarelos', hoje em dia as expectativas quanto à sua atuação política são mais realistas, mas também mais urgentes.
Eis alguns dos desafios que terá pela frente:
*** Desafios económicos ***
Emmanuel Macron manteve no seu programa o aumento da idade da reforma para os 65 anos e a reforma das pensões que não conseguiu concluir no seu mandato anterior. Segundo um estudo da Allianz Trade, acionista da COSEC -- Companhia de seguro de créditos, esta é uma das medidas que pode poupar 40 mil milhões de euros anuais aos cofres franceses, com este dinheiro a reverter para acelerar a transição verde no país.
Ao mesmo tempo, a França, tal como outros parceiros europeus, vê-se a braços com uma inflação recorde de 4,8% em abril de 2022, propulsionada pelo conflito entre a Rússia e a China. Este aumento afeta a grande indústria francesa, com as matérias-primas aumentarem nos setores da maquinaria pesada, automóveis ou metalurgia (algumas das principais exportações francesas), mas também no poder de compra das famílias que já começaram a adaptar o carrinho de compras quando vão ao supermercado.
Para reverter esta situação e promover a reindustrialização de setores-chave em França, algo que Emmanuel Macron prometeu durante a campanha, o estudo da Allianz Trade aconselha a diminuir o desequilíbrio da balança comercial, com a França a ser mais dependente para o consumo doméstico de bens vindos exterior do que países como a Espanha ou a Alemanha, enquanto exporta cerca de 80% daquilo que produz.
Desafios sociais
Se o aumento da idade da reforma e a reforma das pensões ajudam as contas da França, contribuem também para um clima social tenso e revolta dos sindicatos, com muitos franceses a oporem-se à ideia de trabalhar para além dos 62 anos, atual idade da reforma, e muitos a defenderem mesmo a reforma aos 60 anos.
No dia 01 de maio, os sindicatos prometeram estar atentos à ação do Governo e voltar às ruas se o Presidente insistir nessas medidas, criando um clima de tensão social entre trabalhadores e Emmanuel Macron.
A esperança que anima alguns sindicatos é a aliança à esquerda e um possível alargamento da representação parlamentar que possa abrir caminho a uma maior margem de negociação sobre mais medidas sociais, como maximização das ajudas às famílias e aumentos dos cheques alimentação e energia para as famílias mais pobres.
Desde que ganhou o segundo mandato no final de abril, Emmanuel Macron tem vindo a perder a sua popularidade, segundo o jornal "Huffington Post", agradando atualmente a apenas 32% dos franceses, o mesmo nível que tinha antes do início da guerra na Ucrânia.
Desafios políticos
Há três semanas que Emmanuel Macron não consegue encontrar um primeiro-ministro. O Presidente preferiria uma mulher, com um perfil social, ecológico e também produtivo, de forma a ajudar a resolver não só os desafios sociais, mas também para apaziguar o clima social. No entanto, até agora o Presidente da República só recebeu respostas negativas.
Jean Castex e o atual Governo ficam em funções pelo menos até 13 de maio, altura em que o Presidente já deve ter encontrado um novo ocupante para Matignon, que o ajude a seduzir os votos dos franceses e a alinhar a obediência interna do partido nas eleições legislativas que se realizam a 12 e 19 de junho.
Face à união histórica à esquerda entre extrema-esquerda, socialistas, comunistas e ecologistas, Emmanuel Macron mudou o nome do seu partido de República em Marcha para Renascimento, e fez alianças com o Movimento Democrático e o partido Horizontes, podendo ser possível ainda entendimentos mais alargados à esquerda e à direita.
Não obter uma maioria nas eleições legislativas, levaria à escolha de um novo primeiro-ministro apontado por uma outra maioria e ao início de uma coabitação que, apesar de não ser algo novo na política francesa, poria à prova as medidas do programa de Emmanuel Macron para os próximos cinco anos.
Leia Também: Boris Johnson e Macron aspiram a "revitalizar" relações bilaterais