Durante a abertura de um Fórum sobre as alterações climáticas no continente, Ibrahim lembrou que a Europa já importa metade do gás africano, porém lamentou que "alguns dos nossos amigos do Norte" tenham tomado "uma decisão bastante estúpida na COP26 em Glasgow de parar de financiar projetos de gás em África".
Esta decisão, avisou, vai atrasar o desenvolvimento socioeconómico do continente "para desenvolver os próprios recursos de gás enquanto eles estão a nadar em gás russo e gás africano".
"Isto é totalmente inaceitável moralmente de um continente que coloca os valores no centro de seus projetos", afirmou relativamente à UE, a qual urgiu a restabelecer o financiamento à exploração de gás natural em África.
Além de ajudar o desenvolvimento do continente, o gás natural africano representa uma alternativa ao gás da Rússia que a comunidade internacional quer parar de importar como sanções contra a invasão da Ucrânia por Moscovo em fevereiro.
"Como consequência dessa guerra, todos na Europa andam agora a correr em busca de outras fontes de gás. Bem, o nosso gás está aqui.
Venham ajudar-nos a tirar aquele gás e resolver o vosso problema", urgiu.
Um estudo da Fundação Mo Ibrahim estima que as reservas de gás em África em 2020 chegavam a 12 biliões de metros cúbicos, recurso explorado sobretudo pela Argélia, Egito e Nigéria, mas também existente em Angola, Guiné Equatorial, Líbia, e Moçambique.
Dados indicam que descobertas de África representou 41% das novas descobertas de gás natural no mundo entre 2011 e 2018.
Moçambique destaca-se por ter 2,8 biliões de metros cúbicos de reservas de gás natural, quase o dobro das reservas da Noruega, o 8.º maior produtor mundial de gás natural, e quase 40% maior do que as reservas do Canadá, 5.º maior produtor mundial de gás natural.
A questão foi levantada no primeiro dia de um Fórum organizado pela Fundação Mo Ibrahim sobre os desafios e necessidades específicas de África perante as alterações climáticas para servirem de informação na cimeira climática COP27 em novembro em Sharm El-Sheik, no Egito.
Segundo o estudo publicado na terça-feira, o continente é o menos industrializado do mundo e responsável apenas por 3,3% das emissões de gases com efeito de estufa, mas uma das regiões mais afetadas.
Os 10 países mais vulneráveis às alterações climáticas são africanos, incluindo a Guiné-Bissau, sendo o continente vítima crescente de episódios de seca e inundações.
Entre 2010 e 2022, pelo menos 172,3 milhões de pessoas foram afetadas por secas e 43 milhões por inundações em países como Angola e Moçambique.
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