Acordos de Minsk? "Não me culpo por não tentar", defende Merkel

Angela Merkel disse não haver qualquer justificação para o "desrespeito brutal do direito internacional” por parte da Rússia na Ucrânia.

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Notícias ao Minuto com Lusa
07/06/2022 21:43 ‧ 07/06/2022 por Notícias ao Minuto com Lusa

Mundo

Guerra na Ucrânia

Angela Merkel defendeu, esta terça-feira, que se esforçou enquanto chanceler da Alemanha para evitar que as tensões entre a Ucrânia e a Rússia escalassem até à situação atual e afirmou que não se culpa a si própria por não se ter esforçado o suficiente. As declarações foram proferidas durante uma entrevista com o jornalista e escritor alemão Alexander Osang, que foi transmitida pela emissora ARD. 

“É uma grande tristeza que não tenha resultado, mas não me culpo por não tentar”, frisou, referindo-se aos acordos de Minsk.

Os acordos de Minsk - assinados em 2014 por representantes da Ucrânia, da Rússia e das regiões separatistas de Donetsk e Lugansk - puseram fim aos conflitos no leste da Ucrânia, sob a mediação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Durante a entrevista, Merkel disse não haver qualquer justificação para o "desrespeito brutal do direito internacional” da Rússia na Ucrânia. “O meu coração sempre bateu pela Ucrânia”, frisou, acrescentando que espera que o país “saia da melhor forma possível” da guerra.

A ex-chanceler considerou ainda que o “ódio” do presidente russo, Vladimir Putin, “vai contra o modelo ocidental democrático”. “Você sabe que ele quer destruir a Europa. Ele quer destruir a Europa. Ele quer destruir a União Europeia porque a vê como precursora da NATO”, explicou.

Quando fez uma retrospetiva, Angela Merkel referiu uma certa "tranquilidade" por saber que fez o possível para evitar a situação atual e que tem total confiança na gestão do seu sucessor, Olaf Scholz.

Sobre as acusações de que foi ingénua, ao acreditar que a Rússia poderia mudar através das relações comerciais com o Ocidente, Merkel realçou que nunca teve "ilusões", mas que não poderia agir como se um país vizinho "não existisse".

A ex-chanceler sublinhou que já sabia na altura que Putin "queria destruir a Europa" mas que antes de entrar em conflito aberto era preciso "tentar tudo diplomaticamente".

Merkel resumiu a sua política em relação ao Kremlin (presidência russa) com a tentativa de "encontrar um 'modus vivendi' [modo de viver] onde não se estivesse em guerra e tentasse coexistir apesar das diferenças".

Para a antiga chefe do governo alemão, as sanções dos EUA à construção do gasoduto Nord Stream 2 causaram-lhe "incómodo", considerando que era algo que se "fazia com um país como o Irão, mas não com um aliado", mas elogiou a iniciativa do Presidente Joe Biden para 'enterrar' a questão em 2021.

Angela Merkel também defendeu a decisão da cimeira de Bucareste, em 2008, de não conceder à Ucrânia o estatuto de país candidato à adesão à NATO, que na altura não era um país "democraticamente firme" e era "dominado por oligarcas".

A política acrescentou que, do ponto de vista de Putin, também teria sido uma "declaração de guerra" à qual ele teria reagido causando grandes danos a Kyiv, de acordo com a sua política de intervir em países ao redor da Rússia que se tentavam virar para o Ocidente.

A democrata-cristã recordou ainda os seus encontros presenciais com Putin e lembrou que, numa reunião em 2007, em Sochi, o chefe de Estado russo garantiu-lhe que, para ele, a queda da União Soviética foi o pior evento do século XX, enquanto para ela, nascida na Alemanha Oriental, foi uma "sorte" que lhe concedeu "liberdade".

"Era claro que havia uma grande dissidência, que se agravava. Em todos estes anos não foi possível acabar com a Guerra Fria", atirou.

Para Merkel, o Kremlin cometeu um "erro catastrófico" com a invasão da Ucrânia, "um ataque brutal, que desrespeita o direito internacional e não tem desculpa".

Mas pediu para que não se condene sumariamente a cultura russa, mas que se julgue cada obra ou artista separadamente, pois nem todos se alinham com Putin.

Sobre a sua vida pessoal, após 16 anos no poder, Angela Merkel sustentou que ficar mais tempo no governo teria sido um "anacronismo" e que é um "sentimento lindo" ter saído por vontade própria.

Apesar de estar a dedicar os últimos meses ao exercício e à leitura de "livros gordos", a ex-chanceler confessa que esperava que a sua reforma fosse "diferente" e não marcada pela "cicatriz" da guerra.

Ainda na semana passada, durante um evento em Berlim, Merkel descreveu a ofensiva militar russa na Ucrânia como uma “guerra bárbara”, depois de um dia após o início da guerra ter publicado um comunicado onde revelou estar a acompanhar “o desenvolvimento da situação” com “a maior preocupação”. 

A ex-chanceler, que esteve no poder entre 2005 e 2021, tem sido criticada pela sua relação estreita com o presidente russo e pela sua intervenção no desenvolvimento do gasoduto Nord Stream 2.

Assinala-se, esta terça-feira, o 104.º dia da invasão russa da Ucrânia. Segundo dados confirmados pela Organização das Nações Unidas (ONU), que alerta que o número real pode ser mais elevado, pelo menos 4.200 civis morreram no conflito.

[Notícia atualizada às 23h49]

Leia Também: AO MINUTO: "Câmaras de tortura"; Vitória depende de "armas e sanções"

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