ONG considera "desastrosa" a visita à China de Alta-Comissária da ONU

O diretor executivo da Human Rights Watch (HRW) considerou hoje "desastrosa" a recente visita à China da Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, atribuindo parte da responsabilidade ao secretário-geral da ONU, António Guterres.

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Lusa
08/06/2022 15:07 ‧ 08/06/2022 por Lusa

Mundo

Human Rights Watch

Kenneth Roth declarou numa conferência de imprensa que a viagem de Bachelet à China, entre 23 e 28 de maio, "não poderia ter sido melhor para o Governo chinês, que se esforça para esconder as prisões em massa e os abusos em Xinjiang", território autónomo habitado por várias minorias étnicas, nomeadamente os uigures.

Os governos ocidentais e as organizações não-governamentais (ONG) dos direitos humanos acusam a China de deter mais de um milhão de uigures e membros de outras minorias muçulmanas em campos de reeducação.

Roth declarou que Bachelet "adotou a retórica de Pequim" e referiu-se a estes campos como "centros de treino educacional e vocacional".

Bachelet "comportou-se como se a visita fosse um gesto de generosidade de Pequim, quando é obrigação de cada país membro da ONU permitir a entrada de altos funcionários da organização".

Roth acusou a Alta-Comissária de ser "inocente" por acreditar que poderia convencer os líderes chineses, em privado, a acabar com os seus abusos em Xinjiang.

"A força da Alta-Comissária está na pressão que pode exercer ao denunciar publicamente o que Pequim está a fazer. O diálogo nos bastidores é inútil", referiu o responsável da HRW.

Roth afirmou que Bachelet, como ex-Presidente do Chile, "vê-se como uma diplomata e não como uma relatora sobre questões de direitos humanos. Esta não é a sua missão, que é, na verdade, investigar e denunciar abusos".

Questionado sobre se Bachelet deverá continuar como Alta-Comissária - o seu mandato termina este ano, embora possa concorrer à reeleição -, Roth disse que a chilena "não parece confortável em assumir posições contra governos poderosos".

No caso de não concorrer a um segundo mandato ou não ser reeleita, a ONU "deveria recorrer a alguém que não queira ser apenas um diplomata, mas que esteja disposto a falar publicamente", sublinhou o responsável da HRW.

O diretor executivo da HRW afirmou que parte da culpa pela visita fracassada de Bachelet à China é do secretário-geral da ONU, António Guterres, por ter aceitado previamente os termos impostos por Pequim para a visita da Alta-Comissária, quando esteve na capital chinesa por ocasião da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno.

Guterres, segundo Roth, mostra-se "mais fraco" quando se trata de criticar Estados influentes em relação aos seus antecessores no cargo, como o ganês Kofi Annan (que morreu em 2018) e o sul-coreano Ban Ki-moon.

Leia Também: ONG pede à Tailândia que ajude refugiados rohingyas

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