Kenneth Roth declarou numa conferência de imprensa que a viagem de Bachelet à China, entre 23 e 28 de maio, "não poderia ter sido melhor para o Governo chinês, que se esforça para esconder as prisões em massa e os abusos em Xinjiang", território autónomo habitado por várias minorias étnicas, nomeadamente os uigures.
Os governos ocidentais e as organizações não-governamentais (ONG) dos direitos humanos acusam a China de deter mais de um milhão de uigures e membros de outras minorias muçulmanas em campos de reeducação.
Roth declarou que Bachelet "adotou a retórica de Pequim" e referiu-se a estes campos como "centros de treino educacional e vocacional".
Bachelet "comportou-se como se a visita fosse um gesto de generosidade de Pequim, quando é obrigação de cada país membro da ONU permitir a entrada de altos funcionários da organização".
Roth acusou a Alta-Comissária de ser "inocente" por acreditar que poderia convencer os líderes chineses, em privado, a acabar com os seus abusos em Xinjiang.
"A força da Alta-Comissária está na pressão que pode exercer ao denunciar publicamente o que Pequim está a fazer. O diálogo nos bastidores é inútil", referiu o responsável da HRW.
Roth afirmou que Bachelet, como ex-Presidente do Chile, "vê-se como uma diplomata e não como uma relatora sobre questões de direitos humanos. Esta não é a sua missão, que é, na verdade, investigar e denunciar abusos".
Questionado sobre se Bachelet deverá continuar como Alta-Comissária - o seu mandato termina este ano, embora possa concorrer à reeleição -, Roth disse que a chilena "não parece confortável em assumir posições contra governos poderosos".
No caso de não concorrer a um segundo mandato ou não ser reeleita, a ONU "deveria recorrer a alguém que não queira ser apenas um diplomata, mas que esteja disposto a falar publicamente", sublinhou o responsável da HRW.
O diretor executivo da HRW afirmou que parte da culpa pela visita fracassada de Bachelet à China é do secretário-geral da ONU, António Guterres, por ter aceitado previamente os termos impostos por Pequim para a visita da Alta-Comissária, quando esteve na capital chinesa por ocasião da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno.
Guterres, segundo Roth, mostra-se "mais fraco" quando se trata de criticar Estados influentes em relação aos seus antecessores no cargo, como o ganês Kofi Annan (que morreu em 2018) e o sul-coreano Ban Ki-moon.
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