Essa medida "naturalmente representa um sério desafio à nossa capacidade de continuar a trabalhar" no Irão, disse o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, durante uma conferencia de impressa, em Viena.
Já na quarta-feira, antes da votação de uma resolução crítica no Conselho de Governadores da AEIA devido à falta de cooperação do Irão, este país anunciou que havia desligado algumas câmaras.
A AIEA, responsável por garantir a natureza pacífica do programa nuclear do Irão, pode continuar as inspeções e tem outras ferramentas à sua disposição, mas a decisão de Teerão resulta em "menos transparência, mais dúvidas", explicou Grossi.
"Isso significa que estamos a chegar ao fim da corrida? Espero que não seja o caso", acrescentou, pedindo ao Irão que renove o diálogo.
"Vamos torcer para que as emoções diminuam um pouco e para que possamos voltar a focar nos problemas a serem resolvidos", insistiu Grossi.
Se o bloqueio persistir, "em três ou quatro semanas" a AIEA não poderá mais fornecer as informações necessárias sobre a monitorização do programa nuclear iraniano, disse o responsável da agência da ONU.
Isso, disse Grossi, "daria um golpe fatal" ao acordo de 2015, que prevê a limitação das atividades nucleares em troca de uma flexibilização das sanções internacionais.
Esse pacto, conhecido como JCPOA (sigla em inglês), está em suspenso desde que o ex-Presidente norte-americano Donald Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos do acordo em 2018 e reimpôs as sanções a Teerão.
As negociações para restaurar o acordo de 2015 começaram em abril de 2021, mas estão estagnadas desde março.
Hoje, a AIEA também informou que o Irão planeia instalar duas novas centrifugadoras em cadeia, que permitirão que Teerão enriqueça mais urânio.
A decisão de adicionar as duas centrifugadoras IR-6 na sua instalação nuclear subterrânea de Natanz ocorre após o Conselho de Governadores AIEA ter adotado na quarta-feira, com ampla maioria e pela primeira vez em dois anos, uma resolução crítica do Irão por falta de transparência na cooperação com esta organização da ONU.
Segundo fontes diplomáticas citadas pelas agências de notícias Efe e AFP, o texto, apresentado pelos Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha expressa "profunda preocupação" por, apesar de intensos contactos entre o Irão e a AIEA, não se ter esclarecido a origem de vestígios de urânio enriquecido encontrado em três sítios não declarados.
Exorta ainda o Irão a cooperar com a agência e a atuar de forma urgente "para cumprir as suas obrigações legais", uma referência ao acordo de salvaguardas (controlos) que assinou com a AIEA.
Na votação, o texto foi aprovado por 30 dos 35 Estados-membros do conselho e, segundo as fontes diplomáticas, apenas a Rússia e a China votaram contra.
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