Ucrânia. ONU diz que é cedo para tirar conclusões sobre crimes de guerra
A comissão da ONU sobre a Ucrânia recolheu diversas alegações de crimes de guerra cometidos pelas forças russas no país, mas é demasiado cedo para tirar conclusões, defendeu hoje o seu presidente.
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Mundo Guerra na Ucrânia
"Em Bucha e Irpin, a comissão recebeu informações relativas a assassínios arbitrários de civis, destruição e pilhagem de bens, bem como ataques a infraestruturas civis, nomeadamente escolas", declarou o presidente da comissão, Erik Mosek, numa conferência de imprensa em Kiev.
Após a retirada das tropas russas, centenas de cadáveres de civis foram encontrados nessas localidades situadas a noroeste de Kiev: empilhados e espalhados pelas ruas, queimados, em valas comuns, com sinais de tortura e de execução. As autoridades ucranianas acusaram a Rússia de crimes de guerra, o que Moscovo negou.
Nas regiões de Kharkiv e Sumy (nordeste), atacadas pelo exército russo, a comissão observou "a destruição de vastas áreas urbanas, que terá sido consequência de bombardeamentos aéreos ou ataques com mísseis contra alvos civis", acrescentou.
Mas "nesta fase, não estamos em condições de fazer constatações factuais ou de nos pronunciarmos sobre questões relativas à classificação jurídica dos acontecimentos", observou.
"No entanto, sujeitas a confirmação posterior, as informações recebidas e os locais de destruição visitados podem sustentar as alegações de que graves violações do direito internacional dos direitos humanos e do direito internacional humanitário, incluindo crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foram cometidas nessas regiões", sublinhou Mosek.
O responsável falava no final dos trabalhos iniciados a 07 de junho, no âmbito desta primeira missão mandatada pela comissão internacional de investigação criada em maio pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU.
Durante visitas a Bucha, Irpin, Kharkiv e Sumy, a comissão reuniu-se com as autoridades locais e organizações da sociedade civil e recolheu testemunhos de civis. Prosseguirá o seu trabalho no próximo mês.
"Uma coisa é ser testemunha de destruição maciça, por exemplo, recolher relatos de assassínios deliberados, mas outra é chegar a uma decisão sobre a responsabilidade, com a classificação jurídica desses factos", acrescentou um membro da comissão, Pablo de Greiff.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 15 milhões de pessoas de suas casas -- mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou que 4.452 civis morreram e 5.531 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 112.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.
Não existe, até agora, um balanço global das vítimas civis do conflito; só na cidade portuária de Mariupol (sudeste), caída em maio após um cerco de quase três meses, as autoridades ucranianas estimaram cerca de 20.000 mortos.
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