No seu primeiro boletim dedicado ao sismo de magnitude 5,9 na escala de Richter, o Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU indicou que "tendo em conta as chuvas abundantes e o frio, incomuns nesta estação, os abrigos de emergência são uma prioridade imediata".
A população precisa igualmente de cuidados de emergência, ajuda alimentar e não-alimentar e assistência em matéria de serviços de água, higiene e saneamento.
Pelo menos mil pessoas morreram e centenas ficaram feridas no forte sismo ocorrido hoje de madrugada numa zona fronteiriça isolada do sudeste do Afeganistão, segundo as autoridades, que temem que o balanço das vítimas venha a aumentar.
"Apesar de os esforços de busca e salvamento estarem em curso, as fortes chuvas e o vento estão a dificultá-los, e os helicópteros não conseguiram aparentemente aterrar durante a tarde", explicou o OCHA.
A ONU indicou que as organizações humanitárias parceiras iniciaram preparativos para vir em socorro das famílias afetadas nas províncias de Paktika e Khost, "em coordenação com as autoridades que dirigem 'de facto'" o país, numa referência aos talibãs, que retomaram o poder no país em agosto de 2021, após a retirada ao fim de 20 anos das tropas dos Estados Unidos e da NATO.
Também a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) se juntou aos esforços de avaliação da situação e resposta às necessidades das comunidades afetadas, estimando que "milhares de crianças estarão em risco".
Num comunicado hoje divulgado, o representante da UNICEF no Afeganistão, Mohamed Ayoya, indicou que a agência especializada da ONU "enviou várias equipas móveis de saúde e nutrição para prestar primeiros socorros às populações afetadas pelo sismo".
"Estamos também a distribuir artigos de primeira necessidade, como equipamento para cozinhar, produtos de higiene - incluindo sabão, detergente, toalhas, pensos higiénicos e baldes de água -, roupa quente, sapatos e cobertores, bem como tendas e lonas", enumerou o responsável.
Diversos organismos, entre os quais a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a CARE, começaram a enviar equipas de saúde móveis para as províncias de Paktika e Khost.
A OMS entregou igualmente 100 caixas de medicamentos de emergência em Giyan e Barmal.
O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho redirigiu logo três equipas de saúde móveis para Paktika, para responder às necessidades imediatas das populações. Mais carregamentos de material médico e medicamentos estão a ser organizados para envio a partir de Cabul.
Desde as primeiras horas da manhã, a organização International Medical Corps interveio junto das comunidades atingidas, enviando ambulâncias, medicamentos e material médico, segundo o OCHA.
Nas próximas 24 horas, as Nações Unidas vão realizar avaliações para identificar as necessidades nos distritos de Giyan e Barmal, na província de Paktika.
O sismo foi registado a cerca de 46 quilómetros da cidade de Khost, perto da fronteira com o Paquistão, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), que também relatou um tremor de terra secundário de 4,5 de magnitude.
Imagens partilhadas nas redes sociais mostram várias casas destruídas na pior catástrofe natural registada no país asiático em décadas, e o Governo talibã já iniciou os esforços de resgate enviando ajuda, helicópteros e material médico.
O líder máximo dos talibãs, o 'mullah' Hibatullah Akhundzada, instruiu "o Ministério de Gestão de Desastres, os funcionários pertinentes, governadores provinciais e o povo afegão a utilizar todos os seus recursos para chegar às famílias das vítimas, resgatar os mortos e levar os feridos para o hospital", indicou o Governo em comunicado.
A liderança do autodenominado Emirado Islâmico fez também "um apelo à comunidade internacional e às organizações humanitárias para que ajudem as famílias das vítimas neste grande desastre e fornecer a maior ajuda possível", acrescenta o texto.
A agência sismológica europeia EMSC informou que o abalo foi sentido ao longo de 500 quilómetros por 119 milhões de pessoas no Afeganistão, no Paquistão e na Índia.
O USGS referiu que o sismo, com uma magnitude de 5,9, ocorreu a 10 quilómetros de profundidade, pelas 04:30 TMG (05:30 em Lisboa), próximo da fronteira com o Paquistão. Responsáveis afegãos indicaram mais tarde uma magnitude de 6,1.
Este sismo acontece depois da saída de muitas agências de ajuda internacional do Afeganistão, devido à retirada dos militares dos Estados Unidos e da NATO e à tomada de poder pelos talibãs a 15 de agosto do ano passado
O desastre complicará o cenário de crise que o país de 38 milhões de pessoas atravessa.
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