Ucrânia. Demissões na 'secreta' e PGR indicam "centralização política"

As demissões nos serviços secretos e procuradoria da Ucrânia, pelo Presidente Volodymyr Zelensky, indicam uma "centralização política" que pode ser prejudicial ao país, disse à Lusa a ativista Tetiana Shevchuk.

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© Presidência da Ucrânia

Lusa
21/07/2022 08:12 ‧ 21/07/2022 por Lusa

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"Não serão um bom sinal [as demissões] porque significam centralização política do poder e não queremos assistir a mais designações políticas, queremos profissionais independentes, porque atravessamos um momento muito duro para o país", indicou à Lusa Tetiana Shevchuk, responsável pelas relações e programas internacionais do Centro de Ação Anti-Corrupção (AntAC).

No domingo, o chefe de Estado anunciou a demissão de Ivan Bakanov, um seu amigo de infância e chefe dos serviços de segurança ucranianos (SBU, herdeiro do KGB após a independência em 1991), e da procuradora-geral Iryna Venediktova, devido a alegadas ligações de funcionários destas duas instituições com Moscovo.

Apesar de não ter acusado diretamente os dois ex-responsáveis por "espionagem", Zelensky revelou que mais de 60 oficiais do SBU estão a trabalhar "contra a Ucrânia" nos territórios controlados pelos separatistas russófonos e pelas tropas russas, e anunciou "651 processos por traição e colaboracionismo".

Em declarações à Lusa por telefone, Tetiana Shevchuk, 32 anos, indicou que os dois cargos estão ocupados provisoriamente por Vasil Maliuk, em substituição de Bakanov, e Oleksii Simonenko, no lugar de Venediktova, ambos considerados próximos de Andrii Yermak, chefe de gabinete do Presidente.

"Os resultados desta decisão vão depender de quem será designado para substituir as pessoas demitidas. Se vão manter-se temporariamente ou por período indeterminado", assinalou.

A ativista anticorrupção recorda que a situação em Kiev "está mais calma" após as primeiras semanas de conflito, quando as forças russas se aproximaram da capital, mas admite que diversos setores da sociedade se questionam como foi possível a "rápida ocupação" do leste e sul da Ucrânia.

"Perguntam se foram erros cometidos pelos serviços de segurança, pelo gabinete da procuradora-geral... O Governo está a trabalhar nesta questão e já indicou que foram detetadas pessoas que tinham responsabilidades políticas, nos serviços secretos, na procuradoria-geral", indicou.

No entanto, não omite uma "segunda questão", relacionada com as designações de Bakanov e Venediktova por Zelensky.

"Nenhum deles tinha experiência política, nos serviços secretos ou na procuradoria. Ao designar os sucessores, talvez garanta mais influência política sobre eles, maior controlo sobre estas agências. É um sinal de que o processo político regressou", assinalou.

Apesar de ocuparem provisoriamente os dois cargos, os nomes dos substitutos ainda terão de ser aprovados pelo Parlamento, num cenário de crescente rejeição às nomeações políticas que têm caracterizado o consulado de Zelensky, eleito em 2019.

Apesar da invasão militar russa da Ucrânia, iniciado em 24 de fevereiro e com uma guerra ininterrupta a decorrer há quase cinco meses, Tetiana Shevchuk assegura que o combate à corrupção não parou.

"As nossas instituições anticorrupção prosseguem o seu trabalho, por exemplo o Alto Tribunal anticorrupção continua a emitir as suas sentenças, dois juízes foram condenados a penas de prisão, isto aconteceu nos últimos quatro meses", revelou.

"Há investigações às direções de diversas agências [anticorrupção] por tentativas de influência por parte da equipa de Zelensky, mas diria que a integridade da generalidade das agências anticorrupção foi preservada. Trabalhamos nisso, e Zelensky prometeu que seria designada uma pessoa independente para a direção do gabinete anticorrupção".

A responsável do AntAC está convicta que este trabalho de investigação vai manter-se, mesmo que não seja "tarefa fácil".

"Na sociedade, existe a perceção generalizada de que o trabalho anticorrupção deve prosseguir, e prosseguimos. Não será do dia para a noite e devido à guerra não origina manchetes ou abertura nos telejornais. Mas têm sido conseguidos alguns resultados".

Na sequência da intervenção militar russa, a generalidade dos canais ucranianos optou por uniformizar os seus noticiários e estão a emitir a mesma informação em simultâneo.

"Têm a sua política editorial própria, mas agora estão limitados sobre o que podem mostrar e isso implica alguns problemas para os media", admite.

O mesmo sucedeu em relação às investigações sobre a corrupção e ao seu combate -- uma das principais bandeiras de Zelensky durante a campanha eleitoral para as presidenciais da primavera de 2019, juntamente com a promessa do fim do conflito com os separatistas russófonos do leste.

"Sobre as investigações de corrupção no país, foi estabelecido um acordo para não criticar o Governo, em particular nos primeiros meses da guerra. E transferiam as suas investigações para notícias e informações exclusivamente dedicadas à guerra", frisou a ativista.

"Não posso dizer que foi totalmente imposto pelo Governo, significa que existem outros desafios para os media. Temos problemas maiores, têm de expor os crimes de guerra, expor os crimes russos, as ações russas. De momento, os nossos jornalistas combatem a Rússia, mas tenho a certeza de que, quando for possível, voltarão às suas investigações anticorrupção e sobre questões políticas", concluiu.

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