O Nordstream 1, que abastece a Alemanha e a Europa com gás russo, foi esta quinta-feira reativado, depois de dez dias de manutenção. Apesar disso, continua a incerteza sobre o futuro do gasoduto, com uma turbina ainda em trânsito e pendente de entrega.
"Embora cada metro cúbico de gás seja bom porque pode ser armazenado, para a Alemanha (e Europa) ainda faltará muito gás no inverno. E a Rússia poderia reduzir ou interromper o fornecimento a qualquer momento", apontou Stefan Lechtenböhmer em declarações à agência Lusa.
Ainda assim, o chefe do departamento de Energias de Futuro e Sistemas Industriais acredita que o problema pode ser resolvido, ou pelo menos minimizado, poupando gás, comprando gás russo se possível, e a outras fontes como Noruega e Holanda. Passa também por substituir o gás por outras energias em centrais elétricas ou indústrias com duplo combustível.
Olhando ao próximo inverno, os Estados-membros da União Europeia estão a procurar diversificar os seus fornecedores de gás, voltando-se, designadamente, para Estados Unidos, Qatar e Azerbaijão, entre outros países.
"Quanto mais confiantes estiverem os mercados de que isto irá funcionar, menos prováveis são os picos de preços. Apesar de tudo isto, parece ser ainda um enorme desafio e ainda não está claro se haverá gás suficiente para o inverno", sublinhou.
Stefan Lechtenböhmer lembra, ainda assim, que mesmo que a quantidade absoluta de gás seja suficiente, haverá ainda um "desafio infraestrutural".
"O fornecimento de gás na Alemanha virá predominantemente do Norte e do Oeste (em vez de grandes volumes vindos do Leste). Isto significa que poderá haver regiões no Sul e no Leste do país onde a chegada do gás seja mais difícil", apontou.
Para o investigador do Wuppertal Institute, a decisão de Putin de reabrir o gasoduto é pura estratégia com dois principais objetivos.
"Quer maximizar as receitas da Rússia com a venda de gás natural, e teve bastante sucesso até agora porque a interrupção do fornecimento resultou em preços mais altos que até agora parecem ter compensado a Rússia por vendas mais baixas", sublinhou como primeira meta do presidente russo.
"Quer prejudicar ao máximo a vontade e capacidade da Europa para apoiar a Ucrânia e a economia europeia e a nossa estabilidade política", continuou.
"Há até a hipótese de os europeus reduzirem agora os seus esforços para poupar gás e para se prepararem para uma paragem total do abastecimento russo no próximo inverno. Muitas pessoas pensam que o perigo imediato foi afastado, [pois] a Rússia está a fornecer gás. Se tivesse êxito com esta estratégia, ver-se-ia mesmo numa posição mais forte do que se não tivesse retomado o fornecimento de gás", explicou.
Lechtenböhmer concluiu que a Alemanha e a União Europeia precisam de se preparar com "extrema seriedade" para o próximo inverno.
Na quarta-feira, a Comissão Europeia propôs uma redução do consumo de gás na União em 15 por cento até à primavera. E não excluiu partir para uma redução obrigatória da procura.
Leia Também: Chefe da diplomacia húngara esperado em Moscovo para negociar gás