Pelosi arrisca escalada EUA-China com ida a Taiwan. Perceba porquê
Taipé recebeu hoje de braços abertos - apesar da ameaça da China - a líder da Câmara dos Representantes norte-americana, Nancy Pelosi, numa escalada de tensões sobre Taiwan, entre Washington e Pequim.
© Getty Images
Mundo EUA
Eram cerca das 22:43 locais (15:43 hora de Lisboa), quando Pelosi desceu as escadas do Boeing 737 da Força Aérea norte-americana e pisou solo taiwanês, tornando-se na primeira presidente da câmara baixa norte-americana a fazê-lo em 25 anos.
Perante as ameaças de Pequim -- incluindo do próprio Presidente Xi Jinping, que na semana passada disse de viva voz ao homólogo Joe Biden que uma visita de Pelosi seria "brincar com o fogo", num território auto-governado mas que a China considera irrevogavelmente seu -- o voo com o código SPAR19 da Força Aérea norte-americana apenas tornou o seu destino conhecido já em aproximação à ilha que os exploradores portugueses chamaram de Formosa.
Ainda que correndo o risco de visitar Taiwan, são evidentes outras cautelas por parte da 'speaker' norte-americana: a visita (curta) não foi pré-anunciada e a agenda é gerida de forma discreta. O ponto alto, segundo os media norte-americanos, será um encontro na quarta-feira com a Presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen.
"'Speaker Pelosi', bem-vinda a TW" (Taiwan), podia ler-se no mais alto edifício da capital taiwanesa (Taipei 101) à chegada de Pelosi. No aeroporto, foi o chefe da diplomacia taiwanesa a receber a dignitária norte-americana.
Se, para a China, a visita é uma afronta, para as autoridades taiwanesas é um dos maiores gestos recentes de reconhecimento da sua autonomia e do seu modelo de governação democrático, liberal e pró-ocidental. Em total contraste, portanto, com o de Pequim - comunista e anti-liberal.
Na sua primeira mensagem divulgada em solo taiwanês, e para evitar hostilizar ainda mais Pequim, Pelosi fez questão de frisar que a visita "não contradiz a política de longa data dos Estados Unidos" e que a delegação reafirma que Washington "continuará a opor-se aos esforços unilaterais para alterar o 'status quo'" -- ou seja, que rejeita a defesa da independência taiwanesa, que muitos no território defendem.
Mais difícil de digerir para Pequim terá sido a defesa da 'speaker' do "inabalável compromisso no apoio à vibrante democracia em Taiwan".
Washington é o principal fornecedor de armas de Taiwan e seria o seu maior aliado militar em caso de conflito com o gigante asiático. Esta relação constitui um dos principais diferendos entre norte-americanos e chineses.
A China reivindica soberania sobre a ilha e considera Taiwan uma província rebelde desde que os nacionalistas do Kuomintang se retiraram para lá, em 1949, depois de perder a guerra civil contra os comunistas.
Como esperado, Pequim respondeu de forma musculada à chegada de Pelosi a Taipé. Ainda a 'speaker' não tinha aterrado, e já a imprensa oficial chinesa anunciava que caças chineses se dirigiam para o estreito de Taiwan.
Mais tarde, a agência Xinhua noticiava que o exército chinês vai realizar entre quinta-feira e domingo exercícios navais militares, que incluem fogo real, em seis áreas marítimas em redor da ilha de Taiwan. A confirmar-se, Pequim esperará pela saída de Pelosi para realizar tais exercícios.
Não é a primeira vez que em crises no estreito de Taiwan a China realiza exercícios com fogo real junto à costa taiwanesa, mas os mapas dos mesmos divulgados agora pela imprensa oficial mostram perímetros para realização que se adentram na própria costa, e nalguns casos até poucos quilómetros do litoral.
O Ministério da Defesa anunciou que está em "alerta máximo" e que vai "defender resolutamente a soberania nacional e a integridade territorial" da China. A resposta à visita incluirá "ações militares direcionadas", expressão que poderá ser interpretada como exercícios militares, mas também como intervenção.
Já de madrugada, Taiwan anunciou uma incursão de mais de 20 aviões militares chineses na sua zona de defesa aérea.
Entretanto, vários navios norte-americanos cruzam a região. A 7ª Frota dos EUA anunciou que o porta-aviões USS Ronald Reagan está no Mar das Filipinas, a sul de Taiwan, acompanhado pelo 'destroyer' USS Higgins, equipado com o sistema de combate Aegis, que inclui mísseis antinavio e antiaéreos.
Numa "missão de rotina no Pacífico ocidental" - segundo disse à AFP um responsável norte-americano - está também um navio de abastecimento - USS Carl Brashear - e um navio anfíbio do Corpo de Fuzileiros Navais, o USS Tripoli, este a leste de Taiwan.
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