O ministério maliano dos Negócios Estrangeiros divulgou hoje, junto dos jornalistas, uma carta enviada pelo chefe da diplomacia, Abdoulaye Diop, à presidência em exercício do Conselho de Segurança, atualmente assumida pela China.
Na carta, o ministro diz que o Mali "se reserva o direito de fazer uso da legítima defesa" se as ações da França continuarem, de acordo com a carta das Nações Unidas.
A carta está datada de 15 de agosto, data da saída dos últimos soldados franceses do Mali ao fim de nove anos de uma operação de luta contra os extremistas islâmicos.
A junta no poder no Mali desde o golpe de Estado de agosto de 2020 voltou costas à França e aos seus aliados, para se virar para a Rússia.
Na carta divulgada, Diop denuncia "violações repetitivas e frequentes" do espaço aéreo maliano pelas forças francesas e voos de aeronaves francesas envolvidas em "atividades consideradas como de espionagem" e tentativas de "intimidação".
As autoridades malianas dizem dispor de "vários elementos de prova de que essas violações flagrantes do espaço aéreo maliano serviram à França para recolher informações em benefício de grupos terroristas que operam no Sahel e para lhes lançar armas e munições".
O Mali "convida" o Conselho de Segurança a trabalhar para que a França "pare imediatamente os seus atos de agressão" e pede à presidência chinesa que comunique estes elementos aos membros do Conselho, com vista a uma reunião de emergência", acrescentou Diop.
Até agora, as autoridades francesas não reagiram às acusações.
Os últimos militares franceses da força especial Barkhane deixaram o Mali na segunda-feira ao fim de nove anos a combater o fundamentalismo islâmico no país, anunciou o Estado-Maior General das Forças Armadas francesas.
Após criar a operação Barkane em 2014 para ajudar a combater o fundamentalismo islâmico no Mali, a França anunciou em 17 de fevereiro a decisão de reorganizar o dispositivo "fora do território maliano" por concluir que as "condições políticas e operacionais não estavam reunidas" para se manter no país, recordou hoje o Estado-maior.
A presença militar no Sahel ficará reduzida a metade até ao final do ano, com 2.500 militares.
Paris diz há meses que não está a abandonar o combate contra o extremismo islâmico e que está a debater com os países do Sahel e do golfo da Guiné a preparação de novas formas de intervenção.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse no mês passado que "até ao outono vai repensar" a presença militar em África.
A operação Barkhane foi forçada a sair do Mali na sequência de desentendimentos com a junta militar no poder em Bamako desde 2020.
Mais de 2.000 civis foram mortos no Mali, Níger e Burkina Faso desde o início do ano, mais do que os 2.021 mortos registados em todo o ano de 2021, segundo cálculos da agência France-Presse com base em dados da organização não-governamental Acled.
Em nove anos de presença no Sahel, o exército francês perdeu 59 militares.
A junta militar no poder em Bamako desde 2020 pôs um fim à cooperação militar com a França e optou por se virar para a Rússia, através da empresa privada de mercenários Wagner.
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