Guterres assinala seis meses de guerra como um "marco triste e trágico"

O secretário-geral da ONU assinalou hoje como um marco "triste e trágico" os seis meses de guerra na Ucrânia, desencadeada pela Rússia, e lamentou a falta de responsabilização pelas graves violações de direitos humanos observadas no conflito em curso.

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Lusa
24/08/2022 16:17 ‧ 24/08/2022 por Lusa

Mundo

Ucrânia/Rússia

"Hoje marca-se um marco triste e trágico -- seis meses desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro", disse António Guterres numa intervenção no Conselho de Segurança da ONU, frisando que "as consequências desta guerra sem sentido estão a ser sentidas muito além da Ucrânia".

"Com o início do inverno, as necessidades humanitárias continuam a aumentar rapidamente, com milhões de pessoas a necessitar de assistência e proteção. À medida que essas necessidades disparam, é imperativo que os atores humanitários na Ucrânia tenham um acesso seguro e desimpedido a todas as pessoas que precisam de assistência, não importa onde estão", apelou Guterres.

Na mesma reunião do Conselho de Segurança da ONU para debater a situação na Ucrânia, o secretário-geral reforçou a sua preocupação com a central nuclear ucraniana de Zaporijia, o maior complexo nuclear da Europa e cenário de intensos combates pelos quais Moscovo e Kiev se culpam mutuamente.

O ex-primeiro-ministro português assumiu continuar "seriamente preocupado" com a situação dentro e em redor da central nuclear, afirmando que as "luzes de alerta estão a piscar".

"Quaisquer ações que possam colocar em risco a integridade física, a segurança ou a proteção da central nuclear são simplesmente inaceitáveis. Qualquer nova escalada da situação pode levar à autodestruição", frisou.

Guterres pediu que a segurança da central seja garantida e que as instalações sejam restabelecidas como infraestrutura puramente civil.

Apelou ainda para a necessidade da visita da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), órgão de vigilância nuclear que integra o sistema das Nações Unidas, à central de Zaporijia ocorrer o mais rápido possível.

Ainda sobre as consequências da guerra a nível mundial, Guterres assinalou os progressos da iniciativa de exportação de cereais, e defendeu que o mesmo aconteça em relação ao acesso desimpedido aos mercados globais de alimentos e fertilizantes russos, "que não estão sujeitos a sanções".

"É fundamental que todos os Governos e o setor privado cooperem para trazê-los ao mercado. (...). Em 2022, há comida suficiente no mundo -- o problema é a sua distribuição desigual. Mas se não estabilizarmos o mercado de fertilizantes em 2022, simplesmente não haverá comida suficiente em 2023. Muitos agricultores em todo o mundo já estão a planear reduzir as áreas de cultivo para a próxima temporada", observou.

Diante dos diplomatas presentes na reunião do Conselho de Segurança, e perante o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que participou no encontro por videoconferência, António Guterres felicitou o povo ucraniano pelo seu 31.º aniversário como nação independente, sublinhando que o país precisa de paz.

"Paz de acordo com a Carta da ONU. Paz em conformidade com o direito internacional", reforçou.

A reunião de hoje, que foi solicitada pela Albânia, França, Irlanda, Noruega, Reino Unido e Estados Unidos da América, realizou-se no dia em que se cumprem seis meses da ofensiva militar da Rússia contra a Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro.

A reunião também coincide com o aniversário da independência da Ucrânia, declarada em 24 de agosto de 1991, pouco antes da dissolução formal da União Soviética, de que fazia parte.

A par de Guterres, também a subsecretária-geral para os Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz, Rosemary DiCarlo, fez um 'briefing' da situação no país e forneceu números da destruição até ao momento.

"Em 23 de fevereiro de 2022, esta câmara ouviu apelos apaixonados para evitar uma guerra na Ucrânia. Para nenhum proveito. Hoje, exatamente seis meses depois, não se vê um fim à vista para o conflito desencadeado pela invasão da Federação Russa", disse DiCarlo.

A subsecretária-geral afirmou que praticamente todos os cantos da Ucrânia são afetados e ninguém está fora do alcance de ataques com mísseis.

"Os civis estão a pagar um preço alto nesta guerra. Durante os últimos 181 dias, o escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) registou 13.560 vítimas civis: 5.614 mortos e 7.946 feridos. Esses números são baseados em incidentes verificados. Os números reais são consideravelmente maiores", indicou.

A maioria das baixas civis foi causada por armas explosivas com efeitos de ampla área, especificou a alta funcionária da ONU.

Citando dados do ACNUDH, DiCarlo declarou o registo de danos, destruição ou uso para fins militares de 249 instalações médicas e 350 instalações educacionais, sendo que os números reais podem ser superiores.

"Continuamos a receber denúncias de violações de direitos humanos. A detenção arbitrária e o desaparecimento forçado de civis, incluindo autoridades locais, jornalistas, ativistas da sociedade civil e outros civis, continuam", disse.

O ACNUDH documentou 327 casos de detenção arbitrária e desaparecimento forçado de civis pela Federação Russa e por grupos armados em território não controlado pelo Governo.

Também registou 39 prisões arbitrárias em território controlado pelo Governo ucraniano e 28 outros casos que podem equivaler a desaparecimentos forçados.

O órgão verificou ainda 43 casos de violência sexual relacionados com o conflito, a maioria atribuídos às forças armadas russas.

"Também estamos preocupados com a situação dos prisioneiros de guerra de ambos os lados. (...) Estamos preocupados com relatos de que a Rússia e grupos armados em Donetsk estão a planear julgar prisioneiros de guerra ucranianos num designado 'tribunal internacional' em Mariupol", denunciou DiCarlo.

Em relação às crescentes necessidades humanitárias, DiCarlo indicou que pelo menos 17,7 milhões de pessoas, ou cerca de 40% da população ucraniana, precisam de assistência e proteção humanitária, incluindo 3,3 milhões de crianças.

"À medida que o inverno se aproxima, a destruição causada pela guerra, combinada com a falta de acesso a combustível ou de eletricidade devido às infraestruturas danificadas, pode tornar-se uma questão de vida ou morte, se as pessoas não conseguirem aquecer as suas casas", concluiu a representante.

[Notícia atualizada às 17h16]

Leia Também: João Gomes Cravinho visita Irpin e condena "crimes de guerra"

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