Um ano após saída de forças dos EUA talibãs "não sabem governar"

Um ano depois da retirada das forças norte-americanas, "é difícil de imaginar" qualquer regresso à normalidade no Afeganistão sob domínio dos talibãs, que "não sabem governar", disse à Lusa a organização Freedom House.

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Lusa
29/08/2022 08:12 ‧ 29/08/2022 por Lusa

Mundo

Afeganistão

Anne Richard, que lidera o mecanismo de coordenação de Direitos Humanos afegão da Freedom House, sediada em Washington, afirmou que os talibãs são combatentes experientes que já mostraram o seu desrespeito pelos direitos humanos básicos, e "não sabem governar nem estão abertos à construção de organizações da sociedade civil".

"O Afeganistão tem uma grande necessidade de pessoas que possam governar com consciência e para o benefício de todos os cidadãos, respeitando os direitos humanos e evitando a corrupção", disse Richard em entrevista à Lusa, salientando que se torna difícil de conceber uma "vida normal" no país.

As tropas norte-americanas concluíram a retirada do Afeganistão a 30 de agosto de 2021, deixando o país definitivamente nas mãos dos talibãs.

De acordo com Anne Richard, quando as forças norte-americanas e da coligação fizeram planos para se retirar e os talibãs entraram em Cabul, assumindo o controlo do Governo, muitos afegãos "imediatamente tentaram fugir do país ou esconder-se", por vezes de forma desesperada, o que ficou registado nas imagens do aeroporto de Cabul repleto.

"Muitos rezaram para que os talibãs fossem menos brutais agora que estavam a recuperar o poder pela segunda vez. Infelizmente, os talibãs não mudaram e, no ano passado, reinstituíram políticas terríveis", frisou a responsável da organização de defesa da democracia.

A situação tornou-se ainda mais difícil para defensores de direitos humanos, que relataram ter vivido meses de ameaças ou ataques.

Além da perda dos direitos humanos fundamentais, os afegãos viveram um ano de contas bancárias congeladas, fim de serviços governamentais, empregos perdidos e altas taxas de desnutrição, frisou a Freedom House.

No seu relatório anual 'Liberdade no Mundo', a Freedom House classifica o Afeganistão como um país "Não Livre" e, entre 2020 e 2021, foram registadas "perdas terríveis" de liberdade no Afeganistão, que sofreu uma queda de 17 pontos, apenas superada pela de Myanmar.

Os afegãos viram as suas liberdades mais básicas restringidas sob o regime talibã. Através de uma série de editais, mulheres e meninas estão a perder os seus direitos fundamentais educacionais, pessoais e sociais e são desencorajadas a trabalhar fora de casa.

A situação no país é precária e "quem não segue as duras regras dos talibãs pode ver-se em sérios apuros", salienta Anne Richard.

Além de mulheres e meninas, "as minorias religiosas enfrentam violência e perseguição, membros da comunidade LGBT+ [sigla para lésbica, gay, bissexual e transgénero] correm grandes riscos e aqueles com vínculos com o antigo Governo também são frequentemente alvos dos talibãs", disse a líder de coordenação afegã da Freedom House.

"Um outro grupo com o qual a Freedom House está profundamente preocupada são os ativistas de direitos humanos, que durante anos procuraram construir uma sociedade mais livre e democrática, e agora estão, em muitos casos, escondidos. Muitos sofreram ataques físicos e ameaças", lamentou Anne Richard.

Leia Também: Talibãs acusam Paquistão de dar espaço aéreo a drones norte-americanos

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