O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, tenente-general Igor Konashenkov, disse que as forças russas abateram um 'drone' ucraniano sobre a central nuclear de Zaporíjia (Zaporizhzhya) no domingo.
O aparelho não tripulado "atingido pelo fogo militar russo aterrou no telhado da Unidade Especial 1 [da central] sem causar danos e ferimentos graves", disse o porta-voz militar, citado pela agência espanhola EFE.
Do outro lado, a empresa estatal ucraniana de energia atómica Energoatom acusou o exército russo de ter efetuado ataques contra a cidade de Enorgodar, onde se situa a central, e contra a própria instalação nuclear no domingo.
Os ataques provocaram 10 feridos, incluindo quatro funcionários da central nuclear, segundo a mesma fonte.
As forças russas assumiram o controlo da central nuclear de Zaporíjia, no sudeste da Ucrânia, cerca de duas semanas depois de terem invadido o país vizinho, em 24 de fevereiro.
Do lado político, o porta-voz do Kremlin (Presidência russa) apelou hoje à comunidade internacional para pressionar a Ucrânia a reduzir a tensão na central nuclear da Zaporíjia.
"Todos os países têm a obrigação de pressionar o lado ucraniano a deixar de pôr em perigo o continente europeu, bombardeando a central nuclear de Zaporíjia e áreas adjacentes", disse Dmitri Peskov, citado pela agência francesa AFP.
Também o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, reafirmou hoje o apelo para que as forças russas deixem a central e acusou de novo Moscovo de "colocar a Ucrânia e o mundo inteiro em risco de um acidente nuclear".
As acusações de ambas as partes surgem no dia da partida de uma missão de 14 peritos da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para a central de Zaporíjia, a maior instalação nuclear da Europa.
O diretor da AIEA, o diplomata argentino Rafael Groissi, que lidera a missão, anunciou que os peritos da agência da ONU com sede em Viena deverão chegar a Zaporíjia no final desta semana.
Uma série de ataques nas últimas semanas, denunciados pelas duas partes como sendo da responsabilidade da outra, levaram ao receio de um acidente nuclear grave na central.
Após três semanas de tensões e de negociações, a Rússia acabou por concordar com o envio da missão da AIEA.
"Há muito tempo que esperamos por esta missão. Consideramo-la necessária", disse hoje o porta-voz do Kremlin.
Peskov disse que a Rússia garantirá a segurança da missão da AIEA nas áreas controladas pelas suas forças, "tendo em conta os riscos ali existentes, que estão ligados ao bombardeamento incessante pelos ucranianos".
O porta-voz russo disse que os peritos da AIEA chegarão à central "a partir de uma área controlada pelas forças armadas ucranianas".
"Ali, tanto quanto sabemos, a segurança será proporcionada pelos ucranianos", afirmou.
O embaixador da Rússia nas organizações internacionais em Viena, Mikhail Ulyanov, anunciou hoje que o diretor-geral da AIEA pretende deixar vários peritos em permanência na central nuclear de Zaporíjia.
"Esperamos que a visita da missão da AIEA dissipe muitas especulações sobre a situação desfavorável da central nuclear de Zaporíjia", acrescentou o diplomata russo.
A Ucrânia tem quatro centrais nucleares em funcionamento, com um total de 15 reatores, seis dos quais na de Zaporíjia.
O acidente nuclear mais grave de sempre ocorreu em solo ucraniano, em 1986, na central de Chernobyl, quando a Ucrânia fazia parte da antiga União Soviética.
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