"Defesa da vida humana". Vaticano reage a comentário do Papa sobre Dugina

O Papa referiu a morte da filha de Dugin durante a sua audiência geral da semana passada. Vaticano afirma não se ter tratado de uma "afirmação de posições políticas", mas sim de uma "defesa da vida humana".

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© Lorenzo Di Cola/NurPhoto via Getty Images

Márcia Guímaro Rodrigues
30/08/2022 16:25 ‧ 30/08/2022 por Márcia Guímaro Rodrigues

Mundo

Guerra na Ucrânia

O Vaticano reagiu, esta terça-feira, aos comentários do Papa Francisco sobre a morte de Darya Dugina, filha do filósofo ultranacionalista russo Alexander Dugin. Em comunicado, o Vaticano frisou que a referência do pontífice tinha como objetivo a “defesa da vida humana” e não afirmar uma “posição política”. 

“É preciso reiterar que as palavras do Santo Padre sobre esta trágica questão devem ser lidas como uma voz levantada em defesa da vida humana e dos valores a ela ligados, e não como uma afirmação sobre posições políticas”, lê-se.

O Vaticano frisou ainda que “quanto à guerra em grande escala na Ucrânia iniciada pela Federação Russa, as intervenções do Papa Francisco são claras e inequívocas ao condená-la como moralmente injusta, inaceitável, bárbara, sem sentido, repugnante e sacrílega”.

Lembrando que as declarações do Papa que apelam ao fim da guerra na Ucrânia “visam sobretudo convidar os pastores e os fiéis à oração, e todas as pessoas de boa vontade à solidariedade e aos esforços de reconstrução da paz”, o Vaticano reconhece que “surgiram debates públicos sobre o significado político atribuído a tais intervenções”.

No passado dia 24 de agosto -  dia em que a Ucrânia celebrou o 31.º aniversário da sua independência e se assinalou o sexto mês do início da invasão russa - o Papa fez referência à morte da filha de Dugin durante a sua audiência geral. 

“Penso na crueldade, nos inocentes que estão a pagar esta loucura, a loucura de todas as partes, porque a guerra é uma loucura. Os inocentes pagam pela guerra”, sublinhou. Francisco disse ainda pensar "naquela pobre rapariga que explodiu numa bomba debaixo do banco de um carro em Moscovo”.

No próprio dia, o embaixador da Ucrânia no Vaticano, Andrii Yurash, criticou as declarações do Papa, descrevendo o discurso como “dececionante” e acusou a Rússia de ser responsável pelo ataque que matou a jornalista e comentadora política, de 29 anos, na noite de 20 de agosto. 

Já na quinta-feira, também o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia criticou o Papa Francisco pela sua referência à morte de Darya Dugina, acusando-se de causar “mal-entendidos”. Numa nota, publicada no seu site, o ministério tutelado por Dmytro Kuleba revelou que o núncio apostólico na Ucrânia, Visvaldas Kulbokas, foi convocado devido às “declarações do Papa Francisco”.

A Ucrânia afirmou estar “profundamente dececionada” com as palavras do Papa Francisco, “que equiparam injustamente o agressor e a vítima” e acusou o pontífice de causar “mal entendidos” ao “mencionar no contexto russo-ucraniana a morte de uma cidadã russa no território da Rússia”.

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