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Candidata da extrema-direita Meloni diz à UE que "diversão acabou"

Duas visões diferentes da União Europeia (UE) estarão em confronto nas legislativas italianas de 25 de setembro, tendo a candidata de extrema-direita Giorgia Meloni dito esta semana a Bruxelas que, se ganhar as eleições, "a diversão acabou".

Candidata da extrema-direita Meloni diz à UE que "diversão acabou"
Notícias ao Minuto

18:37 - 13/09/22 por Lusa

Mundo Itália/Eleições

Segundo noticiou hoje a publicação digital Euractiv, no discurso que proferiu na praça Duomo, em Milão, a menos de duas semanas das legislativas antecipadas no país, a líder do partido Irmãos de Itália (FdI), Giorgia Meloni, declarou: "Se eu ganhar, para a Europa, a diversão acabou", e defendeu o princípio da subsidiariedade.

Meloni referia-se ao princípio que delimita o exercício de competências da União Europeia (UE) e dos seus Estados-membros, determinando que Bruxelas apenas intervém se a sua ação for mais eficaz a resolver questões políticas ou sociais que a prosseguida pelos 27 no plano mais imediato com capacidade para as solucionar, seja ele nacional, regional ou local.

A resposta do seu adversário do centro-esquerda, Enrico Letta, do Partido Democrático (PD), foi imediata: "É uma afirmação perturbadora (...). Se o centro-direita governar [em Itália], temo que a Itália acabe".

Meloni lidera uma coligação de direita com Matteo Salvini, o dirigente da Liga (que, no Parlamento Europeu, pertence ao grupo eurocético, nacionalista e populista de direita Identidade e Democracia), e o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, líder da formação Força Itália (e pertencente ao Partido Popular Europeu, no hemiciclo de Estrasburgo).

A sua coligação surge na primeira posição em todas as sondagens, contra a coligação de esquerda liderada pelo PD de Enrico Letta.

Os dois principais candidatos entraram em confronto na segunda-feira, num debate organizado pelo diário italiano Corriere della Sera, em que ambos clarificaram as suas linhas políticas em relação à UE.

Meloni disse que a UE deveria ser um gigante político e não um gigante burocrático, gerindo as "grandes questões" e deixando aos Estados-membros "as questões mais próximas da vida dos cidadãos" e deu como exemplo a crise do gás, sustentando que a solidariedade na Europa é relativa.

"A Alemanha não quer impor um limite ao preço do gás, porque tem contratos com a russa Gazprom e não lhe dá jeito", observou Meloni, acrescentando que ninguém está a queixar-se disso porque o chanceler alemão, Olaf Scholz, é socialista.

"Não deixem que Bruxelas faça coisas que Roma pode resolver melhor, e não deixem Roma sozinha a resolver coisas que esta não consegue solucionar sozinha", exortou Meloni.

Por seu lado, Enrico Letta atacou as conservadoras Polónia e Hungria, definindo esta última como defensora dos interesses do [Presidente russo, Vladimir] Putin na Europa.

Os dois países, segundo Letta, são os verdadeiros culpados da inexistência de uma estratégia comum para lidar com a emergência energética desencadeada pela invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro deste ano.

"A razão pela qual a Europa não está a funcionar é exatamente porque os partidos políticos conservadores não querem que a União Europeia decida por maioria. Querem ter poder de veto, [por isso, é-lhes mais favorável] decidir por unanimidade", frisou Letta.

De acordo com o líder da coligação de centro-esquerda, precisamente as decisões sobre essas "grandes questões", mencionadas por Meloni, são impedidas pelo facto de o direito de veto ser utilizado como uma arma de chantagem.

"Precisamos de acabar com o direito de veto, que todos os conservadores (...), como [o primeiro-ministro húngaro, Viktor] Orbán, usam sempre que podem contra os interesses de Itália. A Hungria e a Polónia fizeram tudo para que [o plano] 'Next Generation EU', que depois levou ao Fundo Nacional de Recuperação (pós-pandemia de covid-19). Para nós, esse tipo de Europa não pode continuar a funcionar", disse Letta.

Outro tema espinhoso relacionado com a Europa são as relações com a Rússia, tendo em conta que a amizade do partido Força Itália de Silvio Berlusconi com Putin é histórica e que o seu entendimento político com a Liga, de Matteo Salvini, é bem conhecido.

Giorgia Meloni é uma atlanticista convicta, mas os seus aliados têm uma simpatia demasiado forte pela Rússia, segundo Letta.

"A soberania de Itália estaria em grave risco com o centro-direita no Governo. Berlusconi e Salvini parecem defender mais a soberania da Rússia do que a da Europa", comentou Letta.

"Na Europa, queremos uma Itália que conte, e não uma que proteste e vete em conjunto com a Polónia e a Hungria", acrescentou.

Numa entrevista anteriormente concedida este mês à Euractiv Italy, Iratxe García, a líder da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, deixou um alerta: "Uma eventual vitória dos conservadores [em Itália] enfraqueceria a unidade e a solidariedade de que tanto necessitamos agora, perante a agressão de Putin, devido à agenda nacionalista deles".

Leia Também: Itália. Extrema-direita de Meloni continua a avançar nas sondagens

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