Sete meses depois de a invasão das tropas russas na Ucrânia ter começado, a 24 de fevereiro, os relatos continuam a chegar - e se, do lado ucraniano, a realidade é de perda e morte, do lado russo chegam também manifestações contra a guerra.
"Putin é um idiota. Quer tomar Kyiv. Mas não vamos conseguir", disse um dos soldados, identificado como Aleksandr.
Já um outro soldado, Vlad, anuncia uma decisão: "Quando voltar para casa, vou desistir. Que se lixe o exército".
Numa nova investigação, publicada na quarta-feira, o New York Times conseguiu aceder a chamadas telefónicas entre os soldados que passaram pelo campo de batalha e as suas famílias e amigos - conversas que, após a mobilização, Putin quer restringir, dado que proibiu os cerca de 300 mil reservistas mobilizados na última semana de levarem um telemóvel, ficando sujeitos a conversarem com a família apenas por um telefone.
Here are audio of intercepted phone calls made by Russian soldiers during the first days of Russia's invasion of Ukraine. "Putin is a fool. He wants to take Kyiv. But there’s no way we can do it." pic.twitter.com/lryakXqeV9 https://t.co/05EvDVkATm
— Amee Vanderpool (@girlsreallyrule) September 28, 2022
Alegadamente, esta proibição é feita por razões de segurança, por forma a que as imagens eventualmente partilhadas pelos soldados não sirvam para identificar os locais, onde treinam e onde estão.
"Devido a razões de segurança, é proibido utilizar telemóveis nos territórios onde estão unidades militares", explica numa linha de informações sobre a mobilização, citada pela Sky News.
Há também vários militares que contam durante as conversas que foram enganados pelo Kremlin. "Ninguém nos disse que íamos para a guerra. Avisaram-nos no dia antes de partirmos", explicou Sergey ao telefone com a mãe, Já Nikita, contou a um amigo sobre a má preparação para ir para a guerra: "Treinámos durante dois ou três dias".
Também a brutalidade é descrita por Sergey. "Deram-nos ordens para matar todas as pessoas que virmos", diz.
In candid calls to friends and family back home, Russian soldiers fighting in and around Bucha in March say they are losing and that President Vladimir V. Putin is “a fool.”
— Evan Hill (@evanhill) September 28, 2022
"They wanted to fucking do it in one fell swoop here, and it didn’t fucking work like that," one says. pic.twitter.com/kJr3TcG7rK
Ouça aqui todos os outros registos.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,4 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
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