A resolução recebeu 10 votos a favor, um contra (Rússia) e quatro abstenções (Brasil, China, índia e Emirados Árabes Unidos).
O projeto de resolução, intitulado "Os Chamados Referendos Ilegais na Ucrânia", condenava as consultas organizadas e realizadas pela Rússia de 23 a 27 de setembro em quatro regiões ocupadas na Ucrânia e declarava que os mesmos não têm validade e não podem constituir a base para a anexação dessas regiões pelo Kremlin.
"Realmente esperam que a Rússia aprove esta resolução?", questionou, ironicamente, o representante permanente da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzia, antes de vetar o projeto, alegando ainda que a população das regiões sob referendo não desejam voltar a pertencer à Ucrânia.
Ainda antes da votação, numa mensagem de apelo ao voto a favor da resolução, a embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield, reforçou que o seu país nunca reconhecerá a anexação.
Já após o voto, o Brasil justificou a sua abstenção com a linguagem utilizada na resolução, que, na sua visão, não facilita o processo de negociação de paz.
Por sua vez, o Reino Unido preferiu observar que apesar de nem todos os países terem votado no mesmo sentido, a Rússia foi o único que vetou o projeto.
Para o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya, o facto de a Rússia ter sido o único país a vetar a resolução mostra que Moscovo continua isolado.
Como a resolução foi vetada pela Rússia - que tem direito de veto como membro permanente do Conselho de Segurança-, o projeto deverá agora ser levado por Washington para votação da Assembleia-Geral da ONU, onde a esmagadora maioria dos países tem condenado a invasão russa da Ucrânia e onde nenhum Estado pode bloquear uma decisão sozinho, mas cujas resoluções têm menos peso.
O objetivo, segundo Linda Thomas-Greenfield, é enviar a Moscovo uma "mensagem inequívoca" de que "o mundo ainda está do lado da defesa da soberania e da proteção da integridade territorial".
"As Nações Unidas foram construídas sobre a ideia de que um país nunca mais poderá tomar o território de outro pela força", sublinhou o diplomata norte-americana, que sublinhou que os resultados destes "referendos fraudulentos estavam predeterminados por Moscovo e todo o mundo sabe".
Na quinta-feira, o secretário-geral da ONU alertou a Rússia que a anexação de territórios ucranianos "não terá valor jurídico e merece ser condenada", frisando que "não pode ser conciliada com o quadro jurídico internacional", naquela que foi uma das declarações mais fortes feitas por António Guterres desde a invasão russa da Ucrânia.
Em 21 de setembro, o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou planos para realizar referendos nas regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia e mobilizar parcialmente as reservas militares para apoiar o esforço de guerra da Rússia na Ucrânia.
Realizados os referendos, que, segundo o Kremlin, foram apoiados pela maioria da população, as quatro regiões da Ucrânia serão agora incorporadas à Rússia.
Em 2014, a Rússia já tinha usado o resultado de um referendo realizado sob ocupação militar para legitimar a anexação da península ucraniana da Crimeia, no Mar Negro.
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