'Bolsonaristas' revoltados com ida à segunda volta
Apoiantes do Presidente brasileiro ouvidos pela Lusa à porta do Palácio da Alvorada, em Brasília, manifestaram "revolta" pelo resultado das eleições presidenciais que determinaram uma segunda volta entre o atual chefe de Estado e Lula da Silva.
© Reuters
Mundo Brasil
"O meu sentimento hoje é de revolta", disse à Lusa Ivone Luzardo, no jardim do Palácio da Alvorada, a residência oficial de Jair Bolsonaro.
Definindo-se como cristã, conservadora e patriota, Ivone Luzardo sente-se cansada de ser acusada por alguns juízes do Supremo Tribunal Federal de ser antidemocrática. Nós fomos roubados nas urnas", sublinhou, visivelmente irritada.
As principais sondagens do país divulgadas na véspera das eleições presidenciais, como o instituto Datafolha, deram apenas 36% das intenções de voto a Jair Bolsonaro e 50% dos votos a Lula da Silva, ou seja, uma possível vitória logo à primeira volta.
O Presidente brasileiro teve quase mais oito pontos percentuais (43,2%) e Lula da Silva 48,43%, quando estão apuradas 99,99% das secções dde voto.
Ainda assim, Bolsonaro já tinha afirmado antes das eleições que se não tivesse mais de 60% já na primeira volta "algo estranho" teria acontecido.
"O sentimento é de tristeza porque a gente esperava por outro resultado. No meu sentimento, teve fraude", contou à Lusa Juliana Caren, seguindo a linha da campanha de Bolsonaro que tem denunciado e levantado dúvidas em relação às urnas eletrónicas.
Em contraponto, o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) garantiu que as autoridades cumpriram a missão de trazer transparência às eleições e elogiou as urnas eletrónicas.
"Saímos com a certeza que a justiça eleitoral cumpriu novamente a sua missão de trazer transparência", declarou, em Brasília, Alexandre de Maraes.
Juliana Caren, juntamente com dezenas de apoiantes, estiveram a falar com Jair Bolsonaro, que deixou entrar os apoiantes no jardim do Palácio da Alvorada que se concentravam a cerca de 500 metros das imediações. "Ele pediu ajuda, ele pediu para a gente chamar pessoas" para vencer na segunda volta que se realiza a 30 de outubro, afirmou.
Na mesma linha, Rafael Dias prometeu que nas próximas três semanas de campanha vai lutar "pela democracia e pela liberdade" do país.
"As pesquisas da datafolha não são confiáveis, são mentirosas", disse.
"Quando Bolsonaro sai às ruas são centenas de milhares de pessoas. Como é que esse voto sumiu assim?", questionou, deixando a promessa que não vai deixar a esquerda assumir as rédeas do país.
Na sua única declaração aos jornalistas após o resultado eleitoral, Jair Bolsonaro afirmou que venceu a "mentira" das sondagens que o colocavam apenas 36% nas intenções de voto e Lula da Silva com a possibilidade de uma vitória na primeira volta.
"Vencemos a mentira hoje", disse, em declaração aos jornalistas no Palácio da Alvorada.
Alinhado com a retórica, Alexander Bilek disse à Lusa que o seu sentimento com o resultado eleitoral é de revolta.
"Queria que toda a 'media' do nosso país, do Brasil, fosse buscar informação através da boca das pessoas, do povo. E não através daqueles que têm dinheiro para manipular", frisou.
"Os órgãos de pesquisa [sondagem] estão servindo interesses partidários", criticou.
Com 99,99% das secções eleitorais apuradas, o candidato do Partido dos Trabalhadores, Luís Inácio Lula da Silva, tinha 48,43% dos votos, contra 43,2% de Jair Bolsonaro.
Em terceiro lugar, mas com apenas 4,16% dos votos, ficou a candidata Simone Tebet, enquanto o candidato Ciro Gomes ficou foi o quarto mais votado, com 3,04%.
Soraya Tronicke (0,51% dos votos), Luís Felipe D'Ávila (0,47%), Padre Kelmon (0,07%), Leonardo Péricles (0,05%), Sofia Manzano (0,04%), Vera Lúcia (0,02%) e Eymael (0,01%) foram os restantes candidatos às presidenciais de domingo.
Mais de 156 milhões de eleitores brasileiros foram chamados às secções de voto, onde estavam instaladas 577.125 urnas eletrónicas, espalhadas por 5.570 cidades do país.
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