Como a assistência muitas vezes nunca se materializa, as nações africanas devem colmatar lacunas na sua resposta a surtos, como o Ébola no Uganda, disse Ahmed Ogwell, chefe interino dos Centros Africanos de Controlo e Prevenção de Doenças.
"Este não é o primeiro surto da estirpe sudanesa do vírus Ébola aqui em África e particularmente no Uganda", disse, acrescentando: "Nós, infelizmente, neste momento não temos um diagnóstico rápido para esta estirpe em particular, nem vacinas".
Ogwell falava na capital ugandesa, Kampala, onde funcionários africanos da saúde pública e outros estão reunidos para planear a cooperação transfronteiriça em resposta ao Ébola.
O Uganda declarou um surto de Ébola no passado dia 20 de setembro.
Segundo os peritos, os 54 países africanos não receberam o apoio internacional adequado nas recentes crises sanitárias e tiveram dificuldade em obter vacinas contra a covid-19.
Ogwell lamentou o fracasso da comunidade internacional em ajudar os países africanos a melhorar a sua capacidade de testar a varíola dos macacos e controlar a sua propagação. Disse que não chegou ajuda a África, onde este ano foram reportadas mais mortes por varíola de macacos do que em qualquer outra parte do mundo.
"Recentemente, durante a pandemia, quando vimos o número de casos de varíola crescer aqui em África, emitimos um alerta global, mas nenhuma ajuda chegou", referiu.
E acrescentou: "De facto, hoje, ao vermos o fim da pandemia, ainda não há ajuda a chegar a África para a varíola dos macacos. Isto significa que precisamos de verificar a nossa realidade e, para nós, a realidade é que, quando uma crise de saúde pública é grande, como a pandemia, África está por sua conta".
O epicentro do surto de Ébola no Uganda é uma comunidade rural no centro do país onde os trabalhadores da saúde não foram rápidos a detetar a doença contagiosa que se manifesta como uma febre hemorrágica viral.
Embora o Ébola tenha começado a espalhar-se em agosto, os funcionários descreveram inicialmente uma "doença estranha" que matava pessoas. O Ébola infetou agora 54 pessoas e matou pelo menos 19, incluindo quatro profissionais de saúde. Uma das vítimas é um homem que procurou tratamento num hospital em Kampala e aí morreu.
O Ébola pode ser difícil de detetar no início porque a febre é também um sintoma de malária. A doença espalha-se através do contacto com fluidos corporais de uma pessoa infetada ou materiais contaminados. Os sintomas incluem febre, vómitos, diarreia, dores musculares e, por vezes, hemorragias internas e externas.
Não há vacina comprovada para a estirpe sudanesa do Ébola, mas estão em curso planos para testar uma possível vacina num pequeno grupo de ugandeses que tiveram contacto com doentes com Ébola.
"Uma vez que o Ébola é uma doença prioritária para África, a ausência de diagnósticos rápidos e a ausência de uma vacina significa que temos uma lacuna na forma como damos prioridade às nossas doenças e aos instrumentos de que precisamos para lhes dar resposta", observou Ogwell.
"Como África, temos agora de fazer as coisas de forma diferente, tendo em conta que durante a maior parte do tempo estaremos por nossa conta", reiterou.
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