"Segundo as informações que recebemos, apenas dez (ativistas) foram trazidos, e entre eles está o líder", disse à agência EFE, por telefone, a partir da capital Malabo, um membro do executivo nacional da CI, que pediu anonimato.
Segundo a mesma fonte, a CI não conseguiu contactar a advogada equato-guineense María Jesús Bikene, que deveria representar os detidos, tendo a audiência sido realizada sem a sua presença.
"Não podemos saber se foram trazidos para serem julgados ou apenas para recolherem as suas declarações, porque ninguém pode entrar", acrescentou o membro do executivo nacional.
Parentes de Nsé Obiang, que puderam vê-lo brevemente no Tribunal de Primeira Instância nº 1 de Malabo, explicaram que o líder da oposição parecia "desfigurado", com sinais aparentes de maus tratos no rosto e de quem não se alimentava há vários dias.
Nsé Obiang foi transferido a 05 de outubro para a prisão de Black Beach, também na capital, que é conhecida pelos maus-tratos que lá são infligidos aos reclusos, segundo os opositores e organizações de direitos humanos.
O partido, acrescentaram, não sabe "nada" sobre as acusações apresentadas contra os detidos, na sequência da rusga à sede da IC em Malabo, a 29 de setembro, pelas forças de segurança.
O vice-presidente Equatoguineano Teodoro Nguema Obiang - filho do Presidente Teodoro Obiang -- disse, após a rusga, que Nsé Obiang "pretendia, como os grupos terroristas, semear o terror no país", mas não apresentou provas.
As forças de segurança da Guiné Equatorial, que integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), invadiram as instalações da IC após um cerco de cinco dias e prenderam Nsé Obiang, juntamente com cerca de 275 apoiantes, incluindo menores, segundo confirmou a liderança do partido.
Na operação, a polícia utilizou gás lacrimogéneo e pelo menos um agente foi morto "por tiros de um seguidor de (Nsé) Obiang", enquanto 16 foram feridos, segundo a estação estatal de televisão TVGE.
Os líderes do partido, que afirmaram que 50 civis também foram feridos, registaram inicialmente a morte de quatro civis, sublinhando que não foram mortos por gás lacrimogéneo, como relatou a TVGE, mas sim por tiros.
No passado fim de semana, estas fontes afirmaram que mais pessoas tinham sido mortas durante o assalto, após receberem relatos de que pelo menos mais dois corpos foram encontrados na sede.
Cerca de 135 pessoas foram libertadas a 03 de março e, dois dias depois, o secretário-geral do Ministério da Segurança, Santiago Edu Asama Nchama, disse que cerca de 50 pessoas ainda se encontravam detidas, números que a CI não conseguiu verificar.
Os apoiantes reunidos na sede antes da rusga deviam decidir se Nsé Obiang seria o seu candidato presidencial nas eleições de 20 de novembro contra o chefe de Estado, que anunciou a sua candidatura a 23 de setembro e procurará o seu sexto mandato no cargo.
A CI foi ilegalizada por uma decisão judicial em 2018, mas o seu líder afirma que foi "legalizada" nesse ano através de uma amnistia geral decretada pelo governo para prisioneiros políticos, algo que as autoridades equato-guineenses negam.
Nas últimas eleições presidenciais, realizadas em 2016, o presidente foi reeleito com pouco mais de 95% dos votos, um resultado prejudicado por alegações de fraude por parte da oposição e da comunidade internacional.
Obiang, 80 anos, governa o país com punho de ferro desde 1979, quando derrubou o seu tio Francisco Macias num golpe de Estado, e é o Presidente há mais tempo em funções no mundo.
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