O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, descreveu os ataques perpetrados hoje, na região etíope de Tigray, como "alarmantes" e verificou que existem "numerosos relatos de baixas civis e destruição de alvos civis", após o Governo de Abiy Ahmed e a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF) terem retomado os combates.
"O 'blackout' das comunicações torna particularmente difícil verificar esta informação, mas é evidente que o número de vítimas civis é completamente esmagador", afirmou Turk, numa nota em que também assinalou a morte recente de um trabalhador humanitário, que fazia parte de uma equipa que prestava assistência a mulheres e crianças.
O responsável dos direitos humanos, que iniciou o seu mandato na segunda-feira, receia que esta escalada de tensões possa "exacerbar seriamente o impacto das hostilidades sobre os civis", o que já é "devastador".
Turk apelou, assim, para que aqueles que cometeram abusos sejam devidamente responsabilizados e sublinhou que os envolvidos no conflito devem estabelecer medidas para proteger os civis e permitir que a assistência humanitária chegue a todos aqueles que dela necessitam.
A calamitosa situação humanitária, que já tornou necessária a assistência a mais de nove milhões de pessoas no norte da Etiópia é, para o alto-comissário, "completamente inaceitável", pelo que exortou a todas as partes a concordarem com um cessar-fogo e a iniciarem um diálogo.
Na realidade, porém, as posições permanecem muito afastadas. O Governo etíope anunciou, na segunda-feira, uma nova ofensiva para recuperar o controlo das instalações federais, incluindo aeroportos, e alegadamente recuperou o controlo de uma localização estratégica nas últimas horas.
Com a ajuda das forças eritreias, os etíopes tomaram a cidade de Shire, que tem um aeroporto e está situada num cruzamento rodoviário que lhes permitiria avançar para outras áreas, tais como Axum e Adwa, e, até mesmo para a capital, Mekelle, de acordo com fontes citadas pela agência DPA.
O conflito na Etiópia estalou em novembro de 2020 após um ataque da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF) à base principal do exército em Mekele, na sequência do qual Abiy Ahmed, primeiro-ministro etíope, ordenou uma ofensiva contra o grupo, após meses de tensões políticas e administrativas.
A TPLF acusa Abiy de alimentar tensões desde que chegou ao poder, em abril de 2018, quando se tornou o primeiro oromo a tomar posse. Até então, a TPLF tinha sido a força dominante no seio da coligação governante da Etiópia desde 1991, a Frente Democrática Revolucionária Popular Etíope (EPRDF), de base étnica. O grupo opôs-se às reformas da Abiy, que considerou como uma tentativa de minar a sua influência.
Leia Também: Etiópia. António Guterres diz que situação está "fora de controlo"