Afeganistão. Ativista Zarifa Ghafari propõe cimeira multilateral

 A ex-autarca e política afegã Zarifa Ghafari, hoje distinguida pelo Conselho da Europa, disse à Lusa, em Lisboa, que a solução para o Afeganistão é voltar a reunir "todas as partes", evitar erros do passado e dar voz às mulheres.

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Lusa
18/10/2022 14:56 ‧ 18/10/2022 por Lusa

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Afeganistão

 

"Atualmente as mulheres no Afeganistão não têm o direito à palavra. Atualmente, no Afeganistão ser mulher é por si só um crime que pode ser punido de qualquer maneira", acusa Zarifa Ghafari, 30 anos, ex-autarca e política no exílio distinguida hoje com o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa.

Para a política afegã, homenageada hoje na Assembleia da República, em Lisboa, a solução para o "drama" do Afeganistão é fazer como que a "comunidade internacional" não volte a cometer os mesmos erros do passado e promover com urgência novos contactos com todas as partes.

"Para solucionar o problema atual do Afeganistão, a nível político, porque não organizamos uma reunião como a conferência de Bona, para darmos voz a todas as partes? Não importa a quem: bom ou mau. Temos de acabar com isto e evitar outra guerra", disse Zarifa Ghafari referindo-se aos encontros de 2001 e de 2011 na Alemanha sobre a "estabilidade no país".

Ghafari, refugiada na Alemanha após a tomada de Cabul pelas forças talibãs, em agosto do ano passado, foi presidente da Câmara da cidade de Maidan Shahr, província de Wardak uma das 34 regiões administrativa do Afeganistão.

"Todos devem estar envolvidos, os talibãs, os senhores da guerra do presente, os senhores da guerra do passado e até assassinos. E, espero, que a 'comunidade internacional' não volte a alimentar outra guerra no país e que as super-potências deixem de fazer os mesmos jogos", disse.

Zarifa Ghafari recorda que, no passado, a "comunidade internacional" falhou na forma de ajudar os 'mujahedins' e os senhores da guerra nos anos 1980, antes de os talibãs conquistarem o poder nos anos 1990.    

"Depois, quando os Estados Unidos expulsaram os talibãs para as montanhas (2001) voltaram a trazer os mesmos senhores da guerra e os mesmos mujahedins para formar um novo governo e foi por isso que esta guerra (2001-2021) se prolongou durante 20 anos", recorda.

Para a política afegã no exílio é preciso abandonar os "rótulos" e acabar com as divisões e dar voz a todas as parte e sobretudo ouvir as mulheres afegãs.

"Nós, as mulheres somos sempre as vítimas (...) somos as vítimas das políticas dominadas pelos homens e temos de ter a oportunidade para nos expressarmos, mas, se a comunidade voltar a alimentar aquilo a que chama 'resistência' ou 'guerra', alimentando um grupo em detrimento de outro grupo, vai ser outra vez uma grande confusão que nos vai atirar para outro conflito prolongado", declarou.

A organização de uma conferência com novo formato, frisou, pode ajudar a acabar com a crise no país.

Ghafari critica também a forma "confusa" como as forças internacionais, incluindo Portugal, abandonaram o Afeganistão em 2021.  

O Conselho da Europa distinguiu Zarifa Ghafari "pelas iniciativas na defesa dos direitos das mulheres no Afeganistão e pelo exemplo que constitui a nível internacional na defesa do direito à educação e democracia participativa".  

Ghafari disse à Lusa que dedica o prémio a todas as mulheres afegãs e que vai continuar a ser "porta-voz" dos direitos das mulheres, pela liberdade e "sobretudo pela dignidade".

Atualmente, o regime talibã no poder em Cabul oprime particularmente as mulheres em todo o país, além de ter provocado uma vaga de refugiados que se encontram maioritariamente nos países da região.

Leia Também: Líderes mundiais que apoiam luta de iranianas "esquecem" afegãs

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