As chamas, que devoraram durante mais de 24 horas as encostas do Kilimanjaro, deflagraram ao fim da tarde de sexta-feira perto do campo Karanga, ponto de paragem de caminhantes e alpinistas situado a quase 4.000 metros de altitude, numa das rotas de escalada mais movimentadas que conduzem ao "teto de África" (5.895 metros).
"Conseguimos controlar o incêndio. Em grande medida, já está extinto na maioria das zonas, embora haja ainda fumarolas", declarou hoje de manhã o secretário permanente do Ministério dos Recursos Naturais e do Turismo, Eliamani Sedoyeka, à estação televisiva pública TBC.
Ao início da noite, o ministério anunciou em comunicado que o fogo estava controlado em vários outros pontos: "A situação está globalmente sob controlo, pensamos que estará completamente dominada em pouco tempo", assegurou.
As chamas não fizeram vítimas no cimo deste local turístico do nordeste da Tanzânia, particularmente popular entre os entusiastas de "trekking" e alpinismo. Várias dezenas de milhares de pessoas escalam as suas encostas todos os anos.
Um total de 500 pessoas -- bombeiros, funcionários da Autoridade de Parques Nacionais (Tanapa), polícias e também civis (estudantes, habitantes, empregados de uma operadora turística) -- mobilizou-se para combater o incêndio, que foi atiçado pelo vento forte.
Vídeos que circulavam no sábado nas redes sociais mostravam grandes labaredas devorando vegetação de arbustos e libertando espessas nuvens de fumo negro, mas os bombeiros conseguiram impedir que estas atingissem uma área de floresta situada mais abaixo.
Embora a origem do fogo não tenha ainda sido formalmente identificada, Sedoyeka afirmou no sábado à noite que "é possível que um alpinista ou coletores de mel tenham causado o incêndio por negligência".
Um responsável da Autoridade de Parques Nacionais, Herman Batiho, afirmou estar "certo de que se deveu a atividade humana, talvez a extração de mel por habitantes ou (...) caçadores furtivos".
Este incêndio ocorreu exatamente dois anos depois de um outro que consumiu, durante uma semana em outubro de 2020, 95 quilómetros quadrados (km2) de encosta, sem fazer vítimas. Segundo os primeiros elementos da investigação feita na altura, o fogo foi causado por carregadores que acompanhavam alpinistas.
Montanha emblemática cujo cume com neve é conhecido em todo o mundo, o Kilimanjaro e a zona que o circunda estão classificados como Parque Nacional inscrito na lista do Património Mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
Com uma área total de mais de 75.000 hectares, o parque abriga um ecossistema com uma flora rica e uma fauna composta por elefantes, búfalos e antílopes, entre outras espécies de animais.
Este maciço vulcânico formado por três picos (Kibo, Mawenzi, Shira) não está a conseguir escapar ao aquecimento global, que está a secar em particular a sua vegetação, composta sucessivamente por planícies, floresta de montanha e charnecas de altitude, antes de um deserto alpino e do pico da montanha.
"As neves do Kilimanjaro", celebradas pelo escritor norte-americano Ernest Hemingway, poderão mesmo desaparecer até 2040, segundo um relatório de 2011 da Organização Meteorológica Mundial, a agência especializada da ONU, sobre a situação climática de África.
A superfície coberta por glaciares recuou 85% num século, passando de 11,40 km2 em 1912 para 1,76 km2 em 2011.
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