O historiador e jornalista José Milhazes considera que a guerra na Ucrânia se está a fazer agora num outro nível, numa altura em que os pequenos poderes começam a agigantar-se perante a Rússia e mostram que o presidente russo está a perder terreno.
"[Os pequenos poderes] não são já tão pequenos como parecem. Porque, da forma como eles estão a atuar, mostram que Putin está a perder cada vez mais terreno para os chefes da guerra e para pessoas que o cercam, como Prigozhin, dono da empresa Wagner, que diz que o presidente da Câmara de São Petersburgo roubou o Orçamento de Estado e enriqueceu os funcionários que o cercam e exige que as autoridades investiguem. Dizem que ele, neste momento, é das pessoas mais próximas de Putin e tem um trunfo muito forte. A Wagner é a única organização militar russa que funciona mais ou menos, de resto tem sido uma autêntica desgraça. Putin cada vez toma menos posições fulcrais", destacou, em comentário na SIC Notícias.
José Milhazes considera ainda que a imagem de Putin está cada vez mais fragilizada e o chefe de Estado russo tem tido um discurso delirante ao longo do tempo.
"Prigozhin veio exigir o bloqueio do Youtube e do Google na Rússia, ou seja, ele começa a parecer um centro de poder. Esta é uma pessoa que é preciso ter em conta no futuro. Isso fragiliza a imagem de Putin. Tem dito asneiras absolutamente brutais, no caso, diz os drones marinos ucranianos que atacaram os navios russos são capazes de transportar, diz ele, 500 toneladas de explosivos, tendo apenas um comprimento de seis metros (risos) é preciso mais de uma dezena de carruagens ferroviárias, no mínimo! Putin tem dado pontapés inaceitáveis, inventa-se todos os dias uma lenda nova", afirma o jornalista.
Recorde-se que, no sábado, a Rússia veio, contudo, acusar a Ucrânia de atingir a sua frota na baía de Sebastopol, anexada à Crimeia, com drones aéreos e submarinos, usando para isso o corredor humanitário criado para a exportação dos cereais. Moscovo assegurou que esta operação foi planeada com o apoio de especialistas britânicos.
A Ucrânia, por sua vez, denunciou que este foi um "falso pretexto" para a suspensão do acordo de cereais, enquanto Londres negou qualquer participação neste ataque.
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