A Ucrânia libertou 41 localidades no sul da Ucrânia, na sequência da retirada das forças russas da região de Kherson, revelou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, esta quinta-feira.
“Hoje, temos boas notícias vindas do sul. O número de bandeiras ucranianas a regressarem ao seu devido lugar no quadro de operações de defesa já chega às dezenas. 41 localidades foram libertadas”, disse o chefe de Estado, no seu habitual discurso noturno.
Tecendo agradecimentos aos “guerreiros” que levaram a cabo as operações contraofensivas, o responsável ressalvou que é necessário lembrar “hoje e sempre o que é que este movimento significa”.
“Devemos lembrar-nos que todos os passos das nossas forças armadas colocam em jogo as vidas dos nossos guerreiros. Vidas dadas pela liberdade dos ucranianos. Tudo o que está a acontecer foi alcançado depois de meses de luta. Foi alcançado através de coragem, dor, perda. Não é o inimigo a sair. São os ucranianos que expulsam os ocupantes, com um alto custo. Tal como no este do nosso país, na região de Kharkiv. Tal como antes, no norte – em Kyiv, Sumy, Chernihiv. Agora, Mykolaiv e Kherson”, assinalou.
Zelensky considerou ainda que a Ucrânia tem de “ir até ao fim”, tanto no campo de batalha, como na diplomacia, para que a bandeira ucraniana “seja erguida em todo o território”.
Ainda assim, há muito trabalho a fazer. Uma das tarefas a realizar nos territórios libertados é a retirada das “milhares” de minas deixadas para trás pelas forças russas.
“Já ouvi várias vezes estimativas de que a limpeza das minas russas demorará décadas. Não podemos esperar assim tanto. Temos de fazer em anos aquilo que, em qualquer lado do mundo, poderia ter demorado décadas, após as hostilidades”, argumentou, revelando que a Ucrânia teve, no seu exponente máximo, 300 mil quilómetros quadrados de território considerado como perigoso.
Agora, faltam limpar apenas 170 mil quilómetros quadrados, graças ao “verdadeiro heroísmo” das forças ucranianas – extensão que inclui a região de Kherson, “onde o inimigo deixará minas antes de se retirar”, frisou.
De notar que a Rússia anunciou, esta quinta-feira, que as suas tropas iniciaram a retirada da cidade estratégica, num momento em que aumentam os sinais sobre uma decisão que poderá significar uma viragem no conflito.
Nessa linha, os oficiais ucranianos citados pela agência noticiosa Associated Press (AP) consideraram que as forças russas não tinham outra alternativa, mas permanecem cautelosos por recearem tratar-se de uma armadilha, com o perigo de uma emboscada.
A retirada forçada de Kherson, a única capital provincial que Moscovo conquistou, poderá significar um dos maiores desaires militares para as forças russas, fazendo recordar o seu recuo da região de Kyiv, no início do conflito.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.430 civis mortos e 9.865 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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