O Presidente da China, Xi Jinping, vai participar na cimeira do G20 na próxima semana, em Bali, na Indonésia, onde se reunirá com o homólogo norte-americano, Joe Biden, confirmou esta sexta-feira o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
Para a diretora da Human Rights Watch na China, Sophie Richardson, Biden deve aproveitar a ocasião para "deixar claro ao Presidente Xi que os EUA estão firmemente comprometidos com uma investigação internacional sobre os abusos do Governo chinês".
"O Governo Biden caracterizou oficialmente as políticas chinesas em relação aos uigures em Xinjiang como genocídio e crimes contra a humanidade", realçou Sophie Richardson, lembrando também "os crescentes pedidos globais por responsabilidade" sobre Pequim.
A Casa Branca, que já tinha confirmado este encontro, garantiu que o Presidente norte-americano não fará concessões a Xi durante a reunião, reafirmando que não deseja conflitos, mas sim competir com o país asiático.
As relações entre Pequim e Washington deterioraram-se rapidamente, nos últimos dois anos, marcadas por uma prolongada guerra comercial e tecnológica e divergências em questões de Direitos Humanos, soberania do Mar do Sul da China ou o estatuto de Taiwan e Hong Kong.
Biden garantiu que Taiwan, aliado de Washington que a China considera ser uma província sua, vai ser um tema a abordar na conversa com o líder chinês.
Biden e Xi partilham um longo relacionamento pessoal: os dois conheceram-se há mais de uma década quando eram vice-presidentes e reuniram-se várias vezes.
O encontro da próxima semana será, no entanto, a primeira vez que se reúnem de forma presencial na posição de chefes de Estado, embora tenham realizado duas reuniões por vídeo-conferência no ano passado.
O Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos denunciou em finais de agosto "graves abusos" na região chinesa de Xinjiang, no noroeste da China, onde habita a minoria muçulmana uigur, e alertou para a perpetração de crimes contra a humanidade, ao que o Governo chinês reagiu sustentando que não discrimina populações, embora, na prática, se acumulem as denúncias de que quer eliminar esta para criar uma identidade nacional única.
Para tal, há milhões de membros desta minoria que, desde 2017, desapareceram das suas comunidades, e imagens de satélite mostram complexos de edifícios no meio do deserto de Xinjiang que, à primeira vista, poderão parecer escolas, mas que são, na verdade, campos de concentração -- ou campos de "reeducação", como lhes chamam as autoridades de Pequim -, rodeados de arame farpado e torres de vigia com guardas armados.
Há também testemunhos diretos de elementos desta minoria que estiveram nesses locais, de onde acabaram por ser libertados pelo facto de os cônjuges terem passaporte estrangeiro, e que relatam, entre outras atrocidades, abortos forçados, esterilizações forçadas, violações, tortura sexual com bastões eletrificados, espancamentos e mordeduras até os seus corpos ficarem irreconhecíveis, desfigurados.
De acordo com outros antigos prisioneiros, todos os que estão nos campos "são obrigados a renunciar à sua identidade religiosa e étnica, a tomar medicamentos desconhecidos, sujeitos a intensa doutrinação política, privação de comida e sono, desidratação, instalações sujas e sobrelotadas e violações em massa e tortura física e psicológica conducente à morte".
As crianças são retiradas aos pais e enviadas para orfanatos do Estado, onde lhes é feita uma lavagem cerebral que as despoja da sua cultura e da sua língua e onde crescem pensando que são han, a etnia maioritária no país.
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