"Os ataques às comunidades têm ocorrido quase diariamente desde finais de outubro, com níveis de violência a deslocar pessoas das suas casas e a aumentar a sua vulnerabilidade", disse a Organização Internacional para as Migrações (OIM), num relatório publicado hoje nos meios de comunicação locais.
A OIM afirmou que existem "populações apanhadas no conflito entre os insurgentes e forças governamentais".
De acordo com a agência da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 110.130 pessoas vivem em cerca de 140 localidades em áreas ocupadas pelo movimento 23 de Março (M23), onde são frequentemente vítimas de tortura, recrutamento forçado, pilhagem e outros abusos.
Além disso, a assistência nas comunidades e povoações onde as populações deslocadas se encontram abrigadas "está longe de ser suficiente para satisfazer as suas necessidades", lamentou a OIM.
Muitas pessoas deslocadas instalaram-se em povoações informais, edifícios públicos, postos fronteiriços e locais de culto.
Os combates entre o grupo rebelde M23 e as forças armadas congolesas intensificaram-se de novo no final de outubro passado, após um período de tréguas.
Desde então, o M23 conseguiu avançar para a capital da província do Kivu Norte, Goma, uma cidade importante - por ser a mais povoada do leste da RDCongo - que os rebeldes já tinham apreendido em 2012.
Entre os dois lados, eclodiram hoje fortes combates a cerca de 15 quilómetros da cidade de Goma, de acordo com relatos dos meios de comunicação locais.
Os combates também desencadearam uma crise diplomática, com Kinshasa a acusar o Ruanda de apoiar o M23, afirmação que o Governo Kigali sempre negou, embora um relatório de peritos da ONU, divulgado no início de agosto, tenha confirmado essa cooperação.
O M23 e o Governo ruandês, por seu lado, acusam o exército congolês de colaborar com as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), fundadas em 2000 por alguns dos líderes do genocídio ruandês de 1994 e outros ruandeses exilados na vizinha RDCongo para recuperarem o poder político no seu país de origem.
Tanto a RDCongo como o Ruanda têm insistido no diálogo político para resolver estas tensões diplomáticas crescentes e estão a realizar conversações, mediadas por Angola.
Contudo, as acusações cruzadas continuam e o Presidente congolês, Felix Tshisekedi, apelou este mês aos seus cidadãos para se alistarem no exército, face à "agressão" ruandesa.
O M23 foi formado em 2012, quando soldados congoleses se revoltaram pela perda do poder do seu líder, Bosco Ntaganda, que foi acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra, e por alegadas violações do acordo de paz de 23 de Março de 2009, pelo qual o movimento é nomeado.
O grupo exigiu uma renegociação do acordo assinado pela guerrilha congolesa Congresso Nacional de Defesa do Povo (CNDP) para a sua integração no exército, a fim de melhorar as suas condições.
O CNDP, composto principalmente por tutsis (grupo visado no genocídio ruandês de 1994), foi formado em 2006 para - entre outros objetivos - combater os hutus da FDLR.
O leste da RDCongo tem estado mergulhado em conflito há mais de duas décadas, alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de manutenção da paz da ONU (Monusco).
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