Quatro ativistas indígenas norte-americanos criticaram esta sexta-feira a organização da COP27, considerando "vergonhoso" o tratamento recebido depois de terem protestado contra o discurso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vendo as suas credenciais revogadas.
Na passada sexta-feira, durante a intervenção de Biden na cimeira climática que decorre no Egito, Big Wind, Jacob Johns, Jamie Wefald e Angela Zhong entoaram um cântico de guerra e ergueram uma faixa que dizia 'Pessoas vs. Combustíveis Fósseis'.
As autoridades limitaram-se a confiscar a faixa e o grupo sentou-se e continuou no evento. No entanto, mais tarde, a organização da COP27, que decorre em Sharm el-Sheikh, retirou-lhes as credenciais logo após o final do discurso e os ativistas perderam a segunda semana de trabalhos.
Youth and Indigenous activists from the US interrupted Joe Biden to demand that he stop pushing fossil fuel extraction pic.twitter.com/nGuvxr22oo
— Nina Lakhani (@ninalakhani) November 11, 2022
Ao jornal britânico The Guardian, o grupo contou que apelaram às autoridades competentes mas o caso ainda não foi resolvido - sendo que a cimeira termina esta sexta-feira.
"Fecharam-nos a porta, as nossas vozes estão a ser silenciadas. O colapso climático está a chegar, estamos literalmente a lutar pelas nossas vidas. Se não nos é permitido lutar pelo nosso futuro, que o fará? É vergonhoso", disse Jacob Johns, que faz parte de uma comunidade das tribos Akimel O'otham e Hopi, no estado norte-americano do Washington.
Já Big Wind, uma ativista indígena que luta pela conservação dos locais sagrados das tribos norte-americanas, diz que a revogação das credenciais é "um claro exemplo de pessoas indígenas e jovens serem silenciadas quando tentam exprimir a sua frustração neste espaço". "Mostra as verdadeiras cores da ONU", rematou.
A COP27 tem sido marcada por tentativas de protestos, não só pelo clima mas também contra a forte repressão protagonizada pelo regime egípcio. A cimeira tem sido criticada por ativistas, que acusam o regime de Abdul Fatah Khalil Al-Sisi de querer limpar a imagem do país (o chamado 'greenwashing'), onde há mais de 60 mil presos políticos.
Na cimeira em si, poucos protestos contra o regime foram permitidos, muito menos no interior do complexo da cimeira em si. Alguns delegados foram mesmo detidos e deportados por protestarem durante os eventos, e centenas de civis egípcios foram presos em Cairo quando tentaram aproveitar a atenção mediática sobre a cimeira para criticar o governo.
Vários ativistas indígenas também têm usado a COP27 para apelar a uma maior conservação e proteção das tribos indígenas em várias zonas do mundo, especialmente na floresta tropical da Amazónia, com o recém-eleito presidente brasileiro Lula da Silva a admitir o pagamento de reparações a estes povos.
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