Isabel dos Santos, empresária alvo de um mandado internacional de captura da Interpol a pedido do governo angolano, afirma estar a ser, bem como a sua família, alvo de "perseguição política". Numa entrevista dada à TVI/CNN, acusa ainda o Procurador-Geral da República angolano de "receber ordens do presidente João Lourenço".
Sem que nenhuma das partes revele em que local decorre a conversa, a empresária usa o termo lawfare - uma forma de guerra na qual o direito é usado como arma para justificar as acusações de que é alvo em Angola. "Usa-se a lei para combater um opositor económico ou político", afirma, frisando que "não se quer ter concorrência na política em Angola", e colocando-se no papel de opositora política de João Lourenço.
Questionada sobre se tem ambições políticas no seu país, abre a porta a uma candidatura. "Não tenho dúvidas de que de uma forma ou outra vou contribuir para o futuro político do meu país", garante, elencando os grandes desafios do país, como questões sociais e de natalidade.
"Acredito que os partidos políticos no poder e na oposição não estão a olhar para estas questões. Não há visão, não há um plano", diz, acrescentando que ambiciona "um país diferente."
"Quando cheguei [à Sonagol] não havia dinheiro para pagar salários"
Sobre a Sonangol, a filha de José Eduardo dos Santos diz que, à data, o Ministério Publico angolano pediu a uma das suas empresas para fazer consultoria para "reestruturar o setor dos petróleos", e que foi "convidada pessoalmente como Presidente do Conselho de Administração não executivo". "Quando cheguei não havia dinheiro para pagar salários", afirma, dizendo que era público que a empresa estava "falida".
"O que eu quero hoje é o reconhecimento pela parte da PGR e do Estado de que esta história de contar que não houve consultores e que não foram pagos, não é verdadeira. E o que é muito aborrecido é que é esta história que usam para depois emitir ou mandatos, ou manobras restritivas, ou inclusive fazer arrestos", afirma.
Já sobre o Luanda Leaks, diz que "foi uma construção de João Lourenço" e que tem provas do que afirma. "Quem lê 715 mil documentos? É impossível. E até hoje ninguém os viu. Vimos 140 e a maior parte são completamente inócuos", assevera.
Nunca houve pedidos para "investir em Portugal"
No que concerne ao caso português, diz que a relação com o país foi sempre "através dos investimentos privados", que nunca houve pedidos específicos - por parte do Governo português - para "investir em Portugal" e que não sabe se o telefonema de Costa - por causa dela - aconteceu.
Questionada sobre a sua ligação à Rússia, Isabel dos Santos destacou a cultura e história deste país e, quando questionada se considera passar a viver na Rússia, Isabel dos Santos respondeu apenas que sente "um carinho especial" pelo país. "É a terra da minha mãe. Portanto, é um sítio onde tenho família e que respeito muito, com uma cultura fenomenal", declarou.
Quanto ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, respondeu que espera que o conflito se resolva. "A paz é importante para todos", concluiu.
Recorde-se que o Procurador-Geral da República de Angola prometeu esta segunda-feira que o processo contra Isabel dos Santos vai avançar, mesmo que a empresária não preste declarações no âmbito do mandado de detenção internacional pedido pelas autoridades de Angola.
Helder Pitta Grós, que falava em Luanda à margem de uma reunião do Conselho de Direção, afirmou que desconhece o paradeiro da filha do ex-presidente angolano e afirma que foram feitas várias tentativas para ouvir a empresária que, em entrevista à emissora alemã DW e através das suas redes sociais, tem insistido sempre ter estado disponível para esclarecer as "inverdades" a seu respeito, dizendo que não há interesse em ouvi-la.
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