Um membro do staff do Palácio de Buckingham, residência oficial do rei de Inglaterra, demitiu-se esta quarta-feira depois de uma interação com uma convidada negra da rainha consorte em que questionou, insistentemente, a origem étnica da mulher.
A convidada em causa era Ngozi Fulani, fundadora da instituição de caridade Sistah Space, uma organização britânica que apoia mulheres de origem caribenha e africana que sofreram de abusos.
Na terça-feira, a funcionária em causa terá desviado o cabelo da mulher, para ver o seu nome, e questionou-a várias vezes de onde vinha. Na interação, publicada pela Sistah Space no Twitter, a pessoa começou por perguntar de onde Fulani vem e, quando esta diz que a instituição é inglesa, insistiu e perguntou "de que parte de África vens tu?".
Fulani deu uma resposta vaga, dizendo que não tinham deixado registos. A funcionária insistiu, questionou a sua nacionalidade e, quando Fulani disse que era britânica, carregou na questão de 'onde vem realmente'. "De onde vem o seu povo?", disse.
Mixed feelings about yesterday's visit to Buckingham Palace. 10 mins after arriving, a member of staff, Lady SH, approached me, moved my hair to see my name badge. The conversation below took place. The rest of the event is a blur.
— Sistah Space (@Sistah_Space) November 30, 2022
Thanks @ManduReid & @SuzanneEJacob for support pic.twitter.com/OUbQKlabyq
Segundo o The Guardian, a conversa foi ouvida por Mandu Reid, uma mulher de etnia mista e líder de um movimento contra a desigualdade de género, e outra mulher negra da Sistah Place. Reid confirmou mais tarde a situação, pelo Twitter, escrevendo: "Para pessoas como a funcionária, pessoas como nós nunca serão incluídas".
I was right there. I witnessed this firsthand.
— Mandu Reid (@ManduReid) November 30, 2022
We were at an event that was supposed to celebrate our work.
For people like Lady SH, people like us will never really belong here.
Infinite solidarity @Sistah_Space.
https://t.co/2MswD8AFM8
Fulani acrescentou numa outra publicação que a experiência foi muito dolorosa, pois "não havia ninguém a quem reportar" o problema. "Foi um choque para mim e as duas outras mulheres ficaram atordoadas e em silêncio. Eu fiquei no canto da sala, a sorrir e a interagir brevemente, com as pessoas que me dirigiam a palavra até poder sair. Foi muito difícil ficar num sítio onde foste violada".
Em resposta às alegações, o Palácio de Buckingham lançou um inquérito, descrevendo os comentários como "inaceitáveis e profundamente lamentáveis". "Aceitamos este incidente como extremamente sério e lançamos uma investigação para estabelecer todos os factos. Contactamos Ngozi Fulani sobre este assunto e convidamo-la a discutir todos os elementos da sua experiência pessoalmente, se ela assim o quiser. Entretanto, a pessoa em causa exprimiu as suas profundas desculpas e demitiu-se do seu cargo honorário", acrescentou o Palácio.
Curiosamente, o incidente deu-se durante uma receção de Camila, a rainha consorte, a instituições que trabalham para combater violência contra raparigas e mulheres.
Através do Twitter, várias instituições não-governamentais e ativistas demonstraram o seu apoio a Ngozi Fulani, e aproveitaram para recordar as críticas deixadas por Meghan Markle, a duquesa de Sussex e esposa do príncipe Harry, que, numa entrevista, apontou para tendências racistas na Família Real e nas instituições da coroa, além de indicar comentários sobre a possível cor de pele do seu filho quando ainda estava grávida.
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