Antigo Presidente do PE diz que instituição "não é corrupta"

O ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, pediu hoje que não se confunda a responsabilidade individual por um alegado caso de corrupção relacionado com o Qatar no Parlamento Europeu com a própria instituição, que "não é corrupta".

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Lusa
12/12/2022 15:03 ‧ 12/12/2022 por Lusa

Mundo

Antonio Tajani

"Não devemos confundir três, quatro, cinco, dez deputados, ou assistentes envolvidos em casos de corrupção, com a instituição, porque a instituição não é corrupta", afirmou o também antigo presidente do Parlamento Europeu (PE).

Tajani fez estas afirmações numa declaração à imprensa em Bruxelas, onde participa no Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.

O ex-presidente do PE referia-se à investigação aberta pela justiça belga sobre alegado lóbi ilegal do Qatar para influenciar decisões políticas em Estrasburgo, no âmbito da qual uma das vice-presidentes da instituição, a grega Eva Kaili, foi detida.

A eurodeputada grega, vice-presidente do PE e membro da bancada dos Socialistas europeus (grupo dos Socialistas e Democratas, S&D), encontra-se detida na Bélgica, por alegado envolvimento num caso de corrupção relacionado com subornos do Qatar para influenciar as decisões relativas à realização da edição de 2022 do Mundial de futebol naquele país.

"Em tantos anos, já vi episódios negativos", admitiu Tajani, que foi comissário europeu e depois presidente do Parlamento Europeu entre 2017 e 2019, mas assegurou que defende "também as instituições".

"Não devemos confundir a pessoa com a instituição", insistiu.

No atual caso, referiu, parece ser uma "conduta séria, a condenar, mas não devemos, contudo, favorecer aqueles que querem culpar as instituições comunitárias".

"Lembremo-nos de que o Parlamento Europeu é a única instituição democrática da União Europeia", sublinhou, considerando que a sua atual presidente, a maltesa Roberta Metsola, "fez bem" em "intervir imediatamente em defesa da instituição, favorecendo o rumo da justiça".

Os socialistas do Parlamento Europeu decidiram no sábado suspender Kaili do grupo parlamentar, enquanto as suas funções como vice-presidente foram suspensas pela presidente do PE, a maltesa Roberta Metsola.

Tajani considerou, em todo o caso, que "é necessário monitorizar" e "adotar todas as medidas necessárias" de controlo.

Por seu lado, o alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, também ex-presidente do Parlamento Europeu entre 2004 e 2007, disse à chegada ao Conselho que esta é uma notícia "muito preocupante".

A ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, e o seu homólogo austríaco, Alexander Schallenberg, também tinham já admitido que a credibilidade da UE está em jogo e defenderam que a justiça esclareça cabalmente o caso.

"É um assunto sério... Queremos que toda a verdade seja revelada sobre algo que parece ser particularmente grave", declarou por seu turno a ministra francesa para a Europa e os Negócios Estrangeiros, Catherine Colonna, à chegada ao Conselho.

Questionado sobre o assunto, o ministro dos Negócios Estrangeiros checo, Jan Lipavsky, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE neste semestre, disse que o Catar é "um parceiro importante", com quem as relações "têm que ser construídas em políticas como direitos humanos e trabalho".

Um juiz belga decidiu no domingo acusar a eurodeputada grega, juntamente com outras três pessoas - incluindo o seu companheiro e conselheiro no PE, o italiano Francesco Giorgi - pelo crime de participação em organização criminosa, branqueamento de capital e corrupção.

A Autoridade de Combate ao Branqueamento de Capitais grega confiscou hoje os bens (imóveis, contas bancárias, empresas) no país da vice-presidente do Parlamento Europeu (atualmente suspensa do cargo) e dos seus familiares mais próximos, com a justificação de que é possível que sejam provenientes de atividades ilegais.

O pai de Kaili também está envolvido no caso, e foi detido na sexta-feira em flagrante num hotel com um saco com 600 mil euros em dinheiro, com o qual pretendia fugir.

Segundo os meios de comunicação gregos, outros 150.000 euros foram encontrados em malas numa busca realizada na casa de Kaili em Bruxelas.

Leia Também: Caso Eva Kaili. "Está em causa a confiança das pessoas nas instituições"

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