Trata-se da Save the Children (com sede em Londres), do Conselho Norueguês para os Refugiados (Oslo) e da CARE (Genebra), segundo a agência norte-americana AP.
As três ONG justificaram que não podem chegar eficazmente às pessoas no Afeganistão que necessitam desesperadamente de ajuda sem as mulheres nas suas estruturas locais.
A proibição foi imposta no sábado, alegadamente porque as mulheres não estavam a usar corretamente o véu islâmico.
"Cumprimos todas as normas culturais e simplesmente não podemos trabalhar sem o nosso dedicado pessoal feminino, que é essencial para termos acesso às mulheres que necessitam desesperadamente de assistência", disse o chefe do Conselho Norueguês para Refugiados no Afeganistão, Neil Turner, à AP.
Turner disse que a ONG norueguesa tem 468 mulheres no Afeganistão.
A decisão sobre as ONG do governo talibã segue-se à proibição de as mulheres frequentarem o ensino superior.
Os talibãs retomaram o poder em agosto de 2021, após a retirada de uma força internacional liderada pelos Estados Unidos que esteve no Afeganistão durante 20 anos.
A intervenção internacional seguiu-se aos atentados da Al-Qaida contra os Estados Unidos, em 11 de novembro de 2001, e teve como justificação o abrigo dado ao líder do grupo terrorista, Osama bin-Laden, pelo regime talibã, que foi deposto na altura.
Os talibãs, cujo regime se caracteriza por uma interpretação rigorosa das leis islâmicas, reorganizaram-se e mantiveram uma luta contra o governo pró-ocidental de Cabul, que colapsou com o avanço das forças rebeldes e a retirada das tropas estrangeiras.
Desde então, milhões de afegãos foram arrastados para a pobreza e a fome por uma economia frágil e por medidas que impediram o acesso do Afeganistão às instituições globais e ao dinheiro externo de que o país estava dependente antes da retirada das forças internacionais.
Em novembro, numa entrevista à AP, um alto funcionário do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Martin Schuepp, disse que mais afegãos irão lutar pela sobrevivência à medida que as condições de vida se deteriorarem no próximo ano e o país se preparar para o segundo inverno sob o domínio talibã.
A ordem a proibir as mulheres nas ONG foi divulgada numa circular do ministro da Economia, Qari Din Mohammed Hanif.
Nos termos da decisão, qualquer ONG que não cumprir a ordem terá a sua licença revogada no Afeganistão.
O porta-voz do Ministério da Economia, Abdul Rahman Habib, recusou-se hoje a comentar a decisão e a dar pormenores sobre a proibição, segundo a AP.
Os Estados Unidos avisaram que a proibição de as mulheres trabalharem nas ONG irá perturbar a assistência vital a milhões de pessoas.
"As mulheres são centrais para as operações humanitárias em todo o mundo", disse o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, no sábado.
"Esta decisão pode ser devastadora para o povo afegão", acrescentou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse ter ficado profundamente perturbado com a decisão.
"As Nações Unidas e os seus parceiros, incluindo organizações não-governamentais nacionais e internacionais, estão a ajudar mais de 28 milhões de afegãos que dependem da ajuda humanitária para sobreviver", disse o antigo primeiro-ministro português num comunicado.
No seu primeiro governo (1996-2001), os talibãs baniram as mulheres da educação e dos espaços públicos e proibiram a música, a televisão e muitos desportos.
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