"Muitas destas mortes poderiam ter sido evitadas através de um acesso equitativo a cuidados de saúde maternos, neonatais e infantis de qualidade", considerou o Grupo Interinstitucional das Nações Unidas para a Estimativa da Mortalidade Infantil (UN IGME, na sigla em inglês), responsável pelo relatório onde foram divulgadas as estimativas.
O grupo refere ainda, num relatório separado também divulgado hoje, que 1,9 milhões de bebés nasceram mortos nesse ano por falta de cuidados primários.
"Todos os dias, muitos pais enfrentam o trauma de perder os seus filhos, às vezes antes mesmo da sua primeira respiração", lamentou a diretora da Divisão de Análise de Dados, Planeamento e Monitorização da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Vidhya Ganesh, para quem "esta tragédia generalizada e evitável não pode ser vista como inevitável".
Melhorar estes números "é possível se houver vontade política forte e investimento no acesso equitativo a cuidados de saúde primários de todas as mulheres e crianças", defendeu.
Apesar dos números serem muito altos, os dois relatórios mostram alguma evolução positiva em todas as faixas etárias relativamente ao ano 2000, verificando que atualmente o risco de morte é muito menor.
A taxa global de mortalidade de menores nos primeiros cinco anos de vida caiu 50% desde o início do século, enquanto a taxa de nados mortos diminuiu 35%, o que, segundo a ONU, pode ser explicado pela existência de mais investimentos nos sistemas primários de saúde dedicados às mulheres, crianças e jovens.
No entanto, as melhorias registadas na primeira década do século diminuíram significativamente desde 2010, sendo que 54 países não vão conseguir atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (a chamada Agenda 2030 que é composta 17 grandes Objetivos) para a mortalidade de menores de cinco anos.
Estabelecidos em 2015 pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, estas metas globais definem que a taxa global de mortalidade materna deve ser reduzida, até 2030, para menos de 70 mortes por 100.000 nascimentos.
O objetivo passa ainda por acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de cinco anos e por reduzir, em todos os países, a mortalidade neonatal para não mais de 12 por cada 1.000 nascimentos e a mortalidade de crianças menores de cinco anos para 25 por cada 1.000.
"Se não forem tomadas medidas rápidas para melhorar os serviços de saúde, quase 59 milhões de crianças e jovens morrerão antes de 2030 e quase 16 milhões de bebés vão nascer mortos", alertam as agências que fazem parte deste grupo da ONU.
"É extremamente injusto que as hipóteses de sobrevivência de uma criança sejam condicionadas pelo local onde nasce e que existam desigualdades tão grandes no acesso a serviços de saúde", lamentou o diretor da unidade de Saúde Materna, dos Recém-Nascidos, das Crianças, dos Adolescentes e dos Envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), Anshu Banerjee.
"Qualquer criança, de qualquer local, precisa de um sistema forte de cuidados primários de saúde, que atenda às suas necessidades e às das suas famílias, para que -- nasçam onde nascerem -- tenham o melhor começo e esperança no futuro", afirmou.
O UN IGME foi criado em 2004 para partilhar dados sobre mortalidade infantil, melhorar os métodos de estimativas, relatar a evolução das metas de sobrevivência infantil e aumentar as capacidades dos países.
O grupo é liderado pela UNICEF e inclui a OMS, o Grupo do Banco Mundial e a Divisão de População das Nações Unidas do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais.
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