RDCongo acusa presidente ruandês de "indecência" após recusar refugiados

A República Democrática do Congo (RDCongo) acusou hoje o Presidente ruandês, Paul Kagame, de "instrumentalizar para fins políticos" refugiados congoleses no Ruanda, o que classifico como "o apogeu da indecência".

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© Jeenah Moon/Bloomberg via Getty Images

Lusa
11/01/2023 21:22 ‧ 11/01/2023 por Lusa

Mundo

RDCongo

Na segunda-feira, perante o Senado do Ruanda, Paul Kagame declarou que o seu país "não poderia continuar a receber refugiados" da RDCongo.

"Recuso-me a permitir que o Ruanda carregue este fardo", acrescentou, no mais recente episódio de tensões entre Kigali e Kinshasa.

Por sua vez, o porta-voz do Governo da RDCongo, Patrick Muyaya, disse que é "a prova de que os direitos humanos não têm valor para o Presidente ruandês", acusando Paul Kagame de "chantagear a comunidade internacional sobre vidas humanas, desrespeitando todos os textos legais sobre a matéria".

"É desumano", insistiu, acrescentando: "Os refugiados congoleses são instrumentalizados, porque há um cálculo político por trás disso, é o apogeu da indecência".

Segundo Patrick Muyaya, o chefe de Estado ruandês está a tentar desviar "a atenção internacional da responsabilidade do Ruanda, através do [movimento rebelde do] M23, na agressão à RDCongo, no massacre de Kishishe".

O Ruanda não pode acolher mais refugiados provenientes da RDCongo, resultantes dos confrontos no leste do país, disse segunda-feira Paul Kagame.

No leste da RDCongo, país rico em recursos minerais, os combates entre forças governamentais e milicianos do M23, uma antiga rebelião tutsi, exacerbaram as tensões com o Ruanda vizinho, que Kinshasa acusa de encorajar a milícia. Kigali nega qualquer envolvimento.

Estas violências levaram numerosos congoleses a fugir para países vizinhos como o Ruanda. Segundo o Alto-Comissariado da Organização das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o Ruanda contava com 72 mil refugiados congoleses em novembro de 2022.

Em dezembro, peritos da ONU reuniram "provas substanciais, que demonstraram "a intervenção direta das forças de defesa ruandesas" no território da RDCongo, pelo menos entre novembro de 2021 e outubro de 2022.

A União Europeia já apelou ao Ruanda para que "deixe de apoiar o M23".

O Ruanda atribuiu, por várias vezes, a responsabilidade da crise no leste congolês a Kinshasa e acusou a comunidade internacional de fechar os olhos ao seu alegado apoio às Forças Democráticas de Libertação do Ruanda, um movimento de rebeldes hutus ruandeses, alguns dos quais implicados no genocídio dos tutsi em 1994 no Ruanda.

Apresentada como uma ameaça para Kigali, a existência e a violência desta milícia justificaram intervenções armadas ruandesas em território congolês.

O Ruanda acusou a RDCongo, onde a eleição presidencial está prevista para dezembro deste ano, de instrumentalizar o conflito para fins eleitorais e "fabricar" um massacre que, segundo o inquérito da ONU, foi cometido em novembro pelo M23 e custou a vida a pelo menos 131 civis nas localidades de Kishishe e Bambo, segundo um balanço ainda provisório.

Foram lançadas iniciativas diplomáticas para procurar resolver a crise no leste da RDCongo - incluindo com a mediação do Presidente angolano, João Lourenço, Uma força regional da África Oriental, dirigida pelo Quénia, está em vias de instalação naquela região.

Leia Também: Ruanda recusa acolher mais refugiados da República Democrática do Congo

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